A demanda por insumos dificultou a vida dos produtores de grãos no Mato Grosso. As altas do preço do petróleo no mercado internacional fizeram disparar o custo dos insumos, como fertilizantes. Como a safra no Estado tem apresentado resultados bem melhores que as das duas temporadas anteriores, o produtor foi às compras, o que também ajudou a inflar os preços. A demanda maior tem também causado problemas de abastecimento, segundo os relatos, e não apenas dos derivados do petróleo.
Laércio Hosaka é gerente comercial da revenda da fabricante de máquinas agrícolas New Holland em Primavera do Leste e atesta os depoimentos dos produtores. Na safra passada, segundo ele, a entrega de um trator com potência inferior a 100 cavalos podia até ser feita na hora. O imediatismo, de qualquer forma, pouco valia em um momento de acesso mais restrito ao crédito.
Com a melhora da renda dos produtores - e maior demanda não apenas no Estado, mas também em outros grandes produtores, como o Paraná-, a espera nesta safra, segundo ele, tem chegado a até 40 dias. "Os negócios estão muito aquecidos", afirma. "Estamos em um mercado muito atípico. O preço da soja está crescendo mesmo durante a colheita".
E em uma colheita mais promissora que as anteriores. Nesta quinta-feira, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ampliou sua estimativa de produtividade nas lavouras de soja do Mato Grosso de 50,5 para 52,5 sacas por hectare. A produção, de acordo com a nova projeção, deverá subir 15,2% no Estado, para 17,7 milhões de toneladas. A cotação do grão, como observa Hosaka, está em alta este ano, mas fechou ontem em baixa de 49,75 centavos de dólar na bolsa de Chicago, a US$ 14,5875 por bushel.
Nos herbicidas, a crescente demanda por glifosato não apenas encareceu os preços como levou muitos produtores a temer pelo desabastecimento. "Eu pagava US$ 3,80 por litro e passei a pagar US$ 6,90. E acho que vai subir tudo de novo [na próxima safra]", disse Giuseppe Castelli, produtor de soja em Jaciara. O pico dos preços, afirma o produtor, foi observado no cultivo do milho safrinha.
A pressão dos custos do glifosato foi aliviada com a redução, no último dia 21, da tarifa antidumping aplicada sobre as importações de matérias-primas usadas na fabricação de glifosato da China determinada pela Câmara de Comércio Exterior (Camex).
O custo dos fertilizantes tem subido cerca de 75% nesta safra no Mato Grosso, de acordo com estimativa da Agroconsult. Nas lavouras de soja, o gasto no Estado passou de US$ 104 para US$ 182 por hectare. Os números foram apresentados a produtores da região de Primavera do Leste, que não contiveram o burburinho quando foram mostradas as projeções para a safra 2008/09.
"Pode piorar", vaticinou o analista André Debastiani, da Agroconsult. Para o próximo ciclo, o preço do fertilizante deve superar US$ 300 por hectare, segundo a projeção da consultoria.
Há apenas dois anos, o nutriente super triplo, por exemplo, era negociado por pouco mais de US$ 200 por tonelada. O custo aproximou-se dos US$ 750 por tonelada no mês passado e pode bater em US$ 900 por tonelada, de acordo com as projeções da Agroconsult. Após a apresentação, mais de um produtor repetiu a mesma frase, como um mantra: "não adianta a soja subir. Tudo sobe junto".
O jornalista viajou a convite do Rally da Safra FONTE: Valor Econômico ? SP