O trabalho de combate à ferrugem asiática mostrou, nesta safra, resultados bem mais animadores no campo. Em todo o país, foram detectados 1.778 focos até fevereiro, segundo o Consórcio Anti-Ferrugem, da Embrapa, número bastante inferior aos 2.332 focos registrados no mesmo período da última safra.
Se, por um lado, os cuidados com a ferrugem mostraram-se bastante satisfatórios, eles, em contrapartida, acabaram tirando o foco dos produtores do combate a outras doenças. No Mato Grosso, em muitos casos, aplicações mais regradas de defensivos para o combate à ferrugem significaram queda nas aplicações de defensivos contra as chamadas doenças de fim de ciclo, segundo agrônomos que acompanharam o Rally da Safra.
Nas propriedades do sul de Mato Grosso visitadas pelo Valor, era onipresente a antracnose, doença causada por fungo que causa abortamento das vagens da soja. "O ataque da antracnose está pelo menos 30% maior que na safra passada", diz Luciano Perozzo, agrônomo da Agro Amazônia. "Os produtores se concentraram na ferrugem e se descuidaram em outras doenças".
O ataque mais acentuado relatado por técnicos e produtores não chega a ser preocupante para o desempenho da produção nesta safra, mas pode ter desdobramentos nas próximas colheitas. "As aplicações [de defensivos] têm que aumentar na próxima safra. Se o pessoal não tiver cuidado, a doença pode vir com mais força", diz André Debastiani, analista da Agroconsult.
A doença foi verificada com particular força na região da Serra da Petrovina, considerada a maior região sementeira do Centro Oeste e responsável, estima-se, por 40% das sementes de soja utilizadas no Mato Grosso. Isso aumenta o alerta para a presença do fungo, que tem a semente como sua maior via de disseminação.
Também foram reportados com mais ênfase casos de ocorrência da chamada "soja louca". No fenômeno, causado por percevejos, a planta tem sua maturação retardada. Isso faz com que folhas e ramos permaneçam verdes, mas, em alguns casos, com vagens maduras, o que pode "engasgar" as colheitadeiras. Nos casos de vagens que não amadurecem, a soja produzida perde seu ponto de colheita e, portanto, seu valor comercial.
Os grãos atacados pelos percevejos ficam menores que o normal, enrugados e mais escuros. Nas sementes atacadas por percevejos, o teor de proteína é maior, mas elas produzem menos óleo, e um óleo de pior qualidade. (PC) FONTE: Valor Econômico ? SP