Praticamente todo o leite brasileiro vem de pequenos produtores.
Adição de soda cáustica e água oxigenada ao leite é comum fora do Brasil.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Leite (Leite Brasil), Jorge Rubez, as cooperativas que intermedeiam o leite dos pequenos produtores para as indústrias são o ponto da cadeia produtiva em que há maior possibilidade de haver adulteração do produto. Ele afirma ainda que a conivência da fiscalização nestes casos é provável, pois os ingredientes misturados ilegalmente ocupam muito espaço.
Em operação realizada pela Polícia Federal na segunda-feira (22), em Uberaba e Passos (MG) foram detidos diversos envolvidos em um esquema de adulteração de leite com a adição de produtos químicos, como água oxigenada, soro e soda cáustica. A polícia descobriu que um químico de São Paulo desenvolveu uma forma de adulterar o leite, sem deixar vestígios, e vendeu a técnica para várias cooperativas do país.
Pequenos
Rubez explica que praticamente todo o leite brasileiro vem de pequenos produtores, com média diária de produção inferior a 500 litros. Eles vendem sua produção in natura, apenas resfriada, a cooperativas ou indústrias de grande porte, onde será processada para venda ao público. "As indústrias têm laboratórios para garantir a qualidade do leite. O pequeno produtor não tem estrutura para fazer um processamento químico e, se tentar vender leite adulterado, acaba sendo flagrado e perde todo o carregamento", afirma o presidente da Leite Brasil.
As indústrias que operam nacionalmente, opina Rubez, não teriam interesse em adulterar o leite por causa do prejuízo que isso poderia trazer para sua imagem, diante do pequeno ganho no custo de produção.
Substâncias proibidas, mesmo em concentração pequena, acabam detectadas pelas grandes empresas. Rubez, ele próprio um produtor, conta que já aconteceu em sua fazenda que uma vaca foi tratada com antibiótico e ordenhada antes do prazo prescrito pelas autoridades (geralmente uma semana). "Por causa de 20 litros tirados desse animal, os 5 mil litros que ia vender a uma indústria foram rejeitados".
O presidente comenta que, apesar de ser o primeiro caso com intervenção da Polícia Federal, a adulteração de leite é uma prática conhecida. "Quando o leite está azedo ou diluído com soro de queijo, adiciona-se soda cáustica e água oxigenada para reduzir a acidez. No Brasil isso é proibido, mas a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) não condena esta prática, comum em outros países", explica. FONTE: G1 Globo