A manhã do último dia do II Festival Nacional da Juventude Rural começou com o batuque dos alunos da oficina de percussão, que batiam sem dó no repique, caixa, surdo e timbau, instrumentos utilizados pelo grupo brasiliense Sons da Cidadania. Ao final da aula, os batuques se harmonizaram. “É sempre assim: começa com um barulho descoordenado, mas depois eles vão pegando o jeito”, diz Reinan Assis, aluno e assistente do grupo há quatro anos. A música ecoava em outro ponto do pavilhão do Parque da Cidade de Brasília. Era na sala reservada para a Oficina de Dança, que estava lotada. O hip hop (ritmo americano) contagiou os jovens que arriscavam os passos que, para alguns, ainda era desconhecido. “Sei dançar isso não”, disse Ricardo Henrique, 18 anos, que mora em Iaciara, em Goiás. “Quando tocar forró você vai ver”, desafiou. Pouco depois do hip hop Ricardo tinha a chance de se destacar na aula de forró, mas o que se viu foi um rapaz desengonçado. Até a garota que dançou com ele desistiu no meio da música. “Ela que não sabia dançar. Você viu como eu tentei”, defendeu-se. Ricardo não desistia. Ao tocar novamente o hip hop tentou uns passos conhecidos como “robozinho”, também sem sucesso. Quem tentava ensiná-lo era Joaquim Martins Júnior, o Jhunyor Nikke, de 17 anos. Ele usa esse nome artístico porque faz parte de um grupo de dança de rua da zona rural de Brazlânia, o Alta Voltagem Crew. Eles vão se apresentar neste sábado (31) na cidade de Connectcut, Estados Unidos. “O grupo fará um show em um festival jovem de dança, mas não vou poder ir porque sou menor de idade e meu pai não liberou”, desanima-se. Porém, a tristeza é momentânea. Quando o professor Euclides Flor, de 23 anos, recoloca a música Jhunyor Nikke pede licença para desafiar o amigo numa “batalha de dança de rua”. A roda se abre e todos os aplaudem. Ritmo que ferve Perto dali, na sala ao lado, o professor Jorge Marino dava aulas de frevo. “Aqui é o frevo”, pergunta um jovem ainda na porta, e sai resmungando: “Nem parece aquilo que vejo na televisão”. Mal sabia ele que naquele momento os alunos só estavam aprendendo técnicas de respiração e alongamento para garantir o preparo físico que a dança exige. Alguns minutos depois, as duplas estavam formadas, as sobrinhas a postos e os pés descalços. O mesmo rapaz que havia reclamado da falta de ação no início da oficina, já tinha mudado o discurso: “eu não conseguira pular que nem rã como elas pulam”, diz referindo-se às assistentes do professor Jorge Marino. Em ação Em outra sala, acontecia a oficina de expressão corporal com o ator Chico Simões. “O aluno precisa de três atitudes pra ser um bom ator: ser sem vergonha – no bom sentido -, estar relaxado e concentrado”, ensinou. Ao final das dicas, os alunos se reuniram em grupos para encenarem situações vivenciadas em suas cidades. Um grupo formado por quatro jovens do Tocantins, Minas Gerais e Rondônia apresentou uma situação marcante para eles. Eles tiveram pouco mais de 15 minutos para decidirem os personagens e a história a ser contada: o retorno às aulas depois do II Festival Nacional da Juventude Rural. Numa espécie de galpão, jovens prestavam a atenção a algumas técnicas de grafitagem que o professor Robson Senna dava. Dicas de misturar cores, de traços para elaborar os desenhos e, sobretudo, a filosofia do grafite, “uma arte que, apesar de ter sido originada em áreas urbanas, pode ser expressa de diversas formas e por qualquer pessoa”, explica. FONTE: Rafael Nascimento, Agência Contag de Notícias