Andrea Vialli
Em um esforço para atrelar sua imagem à da sustentabilidade, os bancos brasileiros começam a aumentar a oferta de produtos e serviços ligados a questões sociais e ambientais. Além de fundos de investimentos éticos e produtos que revertem recursos para ONGs, as instituições financeiras começam a rever suas políticas de concessão de crédito.
O Itaú parece empenhado: a partir de hoje coloca no mercado sua política de crédito socioambiental, que deverá favorecer empresas com melhor gestão desses aspectos. O banco também lança uma política de descontos na área de financiamento habitacional para estimular construtoras e incorporadoras a adotar os princípios da construção sustentável nos empreendimentos.
No primeiro caso, a política de crédito será um desdobramento dos chamados Princípios do Equador, um compromisso mundial assumido por 42 instituições bancárias, incluindo bancos brasileiros. O documento, voluntário, prevê a avaliação dos riscos socioambientais para todo financiamento de projeto (project finance) com custo de capital superior a US$ 10 milhões. Ou seja, antes de conceder crédito às empresas, os bancos avaliam aspectos como impactos ambientais do empreendimento, geração de empregos e o relacionamento com as comunidades.
"A novidade é que, a partir de agora, será feita a análise desses aspectos para todos os projetos acima de R$ 5 milhões. Esse teto mais baixo vai permitir englobar os projetos de empresas de pequeno e médio porte, que passam a ter de avaliar seus próprios impactos", diz Antonio Matias, vice-presidente do banco Itaú. Na prática, os empreendimentos passam por uma classificação de risco (rating) socioambiental, em que é calculada a magnitude de seus impactos. "Há uma lista de atividades classificadas como proibidas de serem financiadas e outras classificadas como restritas - como indústrias de armamentos - que serão submetidas à análise pelas equipes de gestão de risco socioambiental, independentemente do valor a ser financiado", explica Matias. No prazo de dois anos, a política será estendida aos Banco Itaú Chile S.A., Banco Itaú Uruguay S.A., Banco Itaú Buen Ayre S.A. e Banco Itaú Europa S.A.
O banco parece não temer a perda de potenciais clientes. "Vamos atrair clientes melhores e rentabilizar no longo prazo", observa o vice-presidente. Isso porque as empresas que têm maior controle sobre os aspectos sociais e ambientais que cercam os negócios também tendem a oferecer menores riscos: são menos vulneráveis a fatores externos, como acidentes ambientais e protestos de grupos insatisfeitos. Com isso, os bancos procuram proteger sua própria reputação.
O outro produto que a instituição está lançando, batizado de Construção Socioambiental, será voltado a empresas do setor imobiliário que adotarem padrões de sustentabilidade nas construções, como gestão dos resíduos, uso de energias renováveis, economia de água e matérias-primas e programas de alfabetização no canteiro de obra. As construtoras e incorporadoras que adotarem esses critérios nos empreendimentos terão uma redução de 25% nas tarifas associadas ao financiamento da obra. O mercado de construção civil deverá ser um dos grandes filões para o setor bancário em 2008. O Itaú espera chegar ao fim de 2008 com um carteira de R$ 3,45 bilhões no setor.
DISCURSO
Os novos produtos do Itaú são lançados em um momento em que os bancos perceberam que falar de sustentabilidade dá bom retorno em termos de marketing. O próprio Itaú investiu US$ 200 mil para trazer Al Gore ao País, e bancos como Unibanco e Bradesco recentemente lançaram campanhas publicitárias vultosas cujo tema central é sustentabilidade.
Fora do País, as instituições financeiras de todo o mundo têm sido pressionadas a analisarem os negócios que ajudam a financiar sob a ótica da sustentabilidade. Ao que parece, ainda precisam avançar. O BankTrack, rede internacional de ONGs que monitora o setor financeiro, lançou há duas semanas o relatório Mind the Gap, que avalia os avanços de 45 bancos de todo o mundo nessas questões, incluindo Banco do Brasil, Bradesco e Itaú. Os dois bancos privados tiveram notas parecidas em todos os itens, e ganharam pontos por serem signatários dos Princípios do Equador. O BB se destacou por ter desenvolvido políticas setoriais específicas, como linhas de crédito para agricultura familiar, pesca e manejo florestal.
"Há progressos no desenvolvimento de políticas que incorporem a responsabilidade social e ambiental nas atividades de financiamento e investimento dos bancos, mas esse progresso ainda é lento e desigual. O maior desafio é sair do discurso e implementar políticas setoriais e temáticas específicas", diz Gustavo Pimentel, gerente de Eco-Finanças de Amigos da Terra Amazônia Brasileira, ONG que representa o BankTrack no Brasil.
Para Leo Johnson, da consultoria britânica Sustainable Finance, que já assessorou instituições como ABN Amro, Citigroup e HSBC, ainda há muitos produtos financeiros de pouca eficácia em termos de sustentabilidade, como cartões e seguros com perfil filantrópico. "Se quiserem dar sua contribuição, os bancos precisam realmente pensar qual é o papel do crédito. Se financiam guerras e atividades poluidoras, certamente não poderão ser chamados de sustentáveis", diz Johnson. FONTE: Estado de São Paulo ? SP