Carlos Mendes, BELÉM
Dois tratores, um ônibus e um caminhão foram queimados por 300 integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que ocupam desde anteontem o canteiro de obras das eclusas da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. Eles cobram da estatal Centrais Elétricas do Norte (Eletronorte) o pagamento de indenizações para cem famílias que, embora já tenham deixado suas casas para a execução da obra, nada receberam.
Os invasores também reivindicam o pagamento do seguro-defeso - espécie de bolsa paga às famílias de pescadores da região no período de reprodução dos peixes, quando ficam impedidos de exercer suas atividades - e pensão vitalícia para os que perderem seus meios de subsistência.
Ontem, no local da obra, o clima era de tensão. Os invasores ameaçavam destruir outros 16 veículos, caso a Eletronorte não negociasse com os líderes das famílias.
A empresa, cujos advogados já apresentaram à Justiça um pedido de liminar de reintegração de posse, não quis se manifestar sobre a destruição dos veículos. Segundo seus assessores, até ontem a Eletronorte não tinha recebido nenhuma lista de reivindicações. Eles também disseram que a invasão não prejudica a produção de energia elétrica.
ACUSAÇÃO
O motivo real da disputa entre o MAB e a Eletronorte não é a falta de pagamento das indenizações, mas a ausência de um acordo sobre os valores. As famílias não aceitam as quantias propostas, entre R$ 4 mil e R$ 15 mil, e querem aumentar para aproximadamente R$ 60 mil.
Ontem, a coordenadora do movimento, Euvanice Furtado, acusou a Eletronorte de fugir à sua responsabilidade: "A empresa não compareceu para conversar nem mandou representante." Ela teme que os invasores fiquem ainda mais revoltados e destruam outros bens.
Em nota oficial, o MAB disse que o acordo firmado entre as famílias, o governo federal e a Eletronorte teria sido desrespeitado: "Prometeram várias coisas. Mas a única cumprida, e com atraso, foi a entrega de cesta básica. Serão quatro e já na primeira eles demoraram a entregar. Cansamos de esperar."
O pescador Martins Filho, um dos invasores, disse que ele e sua família enfrentam dificuldades para sobreviver: "A situação está muito difícil, porque não pagaram o seguro."
REPETIÇÃO
Esta é a terceira vez no ano que manifestantes ligados ao MAB realizam invasões em Tucuruí. A mais grave delas ocorreu em maio, quando a sala de controle e a casa de máquinas da hidrelétrica foram ocupadas, pondo em risco o abastecimento de energia na região.
Por ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Exército e a Polícia Federal deslocaram efetivos para a região, com o objetivo de desocupar o local. Um dos líderes do MAB chegou a brincar na ocasião, fingindo, diante de câmeras de televisão, que apertaria um dos botões de controle de funcionamento da hidrelétrica.
Em outubro o MAB invadiu o canteiro de obras das eclusas - o mesmo que voltou a ser ocupado agora. O movimento também quer impedir a continuidade dessa obra, cujo objetivo é possibilitar a navegabilidade do Tocantins para o escoamento de minérios de ferro para exportação. "Vai servir para o saqueamento dos recursos naturais do Pará", disse Euvanice. COLABOROU ROLDÃO ARRUDA FONTE: Estado de São Paulo ? SP