Luciano Pires
Da equipe do Correio
Em um sinal claro de que a crise no campo ficou para trás, a agroindústria brasileira cresceu 5% no ano passado. O índice é bem superior ao registrado em 2006 (1,5%), de acordo com dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A forte expansão foi influenciada principalmente pelo desempenho do setor agrícola (4,9%), que teve como motores a valorização dos preços das commodities, o aumento do volume exportado e a ampliação do consumo interno.
O clima favorável também ajudou as cadeias ligadas à agricultura. Além disso, os produtores utilizaram grandes quantidades de adubos e fertilizantes, contribuindo para a safra recorde de grãos obtida em 2007 (133 milhões de toneladas). Já os segmentos vinculados à pecuária tiveram um salto de 2,8%. No grupo de inseticidas, herbicidas e outros defensivos agropecuários a alta foi de 22,6%, resultado do avanço das lavouras de soja, cana-de-açúcar, milho e algodão pelo Centro-Oeste, Sul e Sudeste do país. Em todos os trimestres de 2007 a agroindústria apresentou índices positivos.
A ampliação dos investimentos em tecnologia pode ser comprovada ainda pelo aumento da produção de máquinas e equipamentos (49,3%). A taxa expressiva se justifica porque houve crescimento da renda do homem do campo. Com mais dinheiro no bolso, o produtor investiu no próprio negócio, modernizou a fazenda e ganhou em produtividade. As vendas de implementos e máquinas foram tão significativas no ano passado que a quantidade exportada de tratores de rodas e de colheitadeiras cresceu, respectivamente, 21,4% e 49,1%, conforme levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Para Fernando Abritta, economista da coordenação de indústria do IBGE, o comportamento da agroindústria no ano passado permite previsões otimistas para 2008. "O levantamento de safra prevê um resultado melhor neste ano. Existe ainda a tendência de que os preços de comercialização sejam favoráveis, além, é claro, de uma demanda externa aquecida", lembrou.
Discussão sobre carne vai demorar
As discussões sobre o embargo europeu à carne brasileira podem levar mais de quatro meses, na avaliação do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Segundo ele, será preciso rever o número de propriedades que poderão exportar carne para a União Européia (UE). "Do jeito que está, com 300 propriedades, não é possível encher um contêiner para exportar para a UE. Com esse número não há densidade para as exportações: precisamos de 3 mil a 5 mil propriedades", afirmou.
O ministro disse ainda que o governo terá que discutir como será o processo de agregação de novas propriedades à lista. Stephanes lembrou que os europeus não questionam a sanidade do rebanho brasileiro, mas a rastreabilidade. Segundo ele, o erro do Brasil foi aceitar as mesmas regras aplicadas à rastreabilidade na Europa. "Elas foram criadas por causa do mal da vaca louca, doença que nós não temos", disse. A expectativa do governo é apresentar aos europeus a lista com as propriedades dentro das regras atuais, que Stephanes espera sejam revistas.
Alívio fiscal
O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, considera que o embargo europeu é um problema de ordem comercial. "Ao assumir a liderança no setor, vieram também os oponentes", afirmou. Para ele, uma das saídas que o governo poderá adotar seria o alivio fiscal, já que a rastreabilidade implica em mais custos para o produtor disposto a exportar para o bloco. Sobre a possibilidade de recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o embargo europeu, Rodrigues afirmou que a OMC será um foro importante para a discussão. "Pode ser a saída para um foro de discussões. Ainda não é hora de retaliações. Mas também não se descarta uma guerra comercial", disse. As declarações foram feitas após reunião realizada ontem na Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). FONTE: Correio Braziliense ? DF