Nem mesmo uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) favorável à permanência dos não-índios na terra indígena fará com que os índios, que defendem a saída dos brancos, aceitem continuar convivendo com aqueles que chamam de "invasores". Foi o que garantiram líderes da comunidade Jawari, que montaram um bloqueio na rodovia RR-319 para impedir que os produtores de arroz levem material de uso em lavoura para suas fazendas que ficam na Reserva Raposa Serra do Sol.
- A terra é nossa e foi invadida por esses homens. Quando nascemos, ninguém conhecia esses arrozeiros aqui - afirmou Perciliano Januário. - Nós ficamos revoltados porque eles ficam enriquecendo e impedindo nossa pesca e nossa caça. Ninguém vai arredar o pé, porque nós não aceitamos eles ficarem aqui na nossa terra, que é o cemitério de nossos antepassados.
Bombas e tiros
Mostrando fotos, o tuxaua (chefe) Francisco Constantino Júnior relata que, em novembro de 2004, após a construção de mais malocas, a comunidade teria sido atacada com bombas e tiros, segundo ele, a mando dos arrozeiros da região.
- Os arrozeiros não gostam da gente, por isso, não aceitamos eles aqui. Agora mesmo nossos parentes foram baleados no Surumu - lembrou Constantino, referindo-se ao atentado sofrido nesta semana por índios que ocupavam a fazenda do líder dos arrozeiros Paulo César Quartiero.
Manipulação
Os índios também definem como "mentiras" as acusações dos arrozeiros de que eles seriam manipulados por padres e organizações não-governamentais estrangeiras para defenderem a demarcação da Raposa/Serra do Sol em área contínua.
- Padre não tem nada a ver com isso, e estrangeiros são eles (arrozeiros) - rebateu Januário, apoiado em seguida pelo professor indígena Jaime Araújo:
- Nós também somos inteligentes e sabemos decidir sozinhos o que queremos.
Questionados, os indígenas se dizem satisfeitos com a postura adotada pelo presidente da República em relação ao conflito.
- Ele assinou e reconheceu nossa terra. Gostamos até aqui e não queremos que o tribunal altere nossa homologação - ressaltou o tuxaua Constantino. FONTE: Jornal do Brasil - 13/05/2008