Da equipe do Correio
Uma versão moderna do episódio em que o branco tenta seduzir o índio dando um espelho de presente voltou a ocorrer. Pelo menos foi o que líderes da etnia Yanomami denunciaram ontem na Câmara dos Deputados. Segundo eles, no dia 14 de fevereiro uma comitiva com três parlamentares da Comissão Especial de Mineração em Terras Indígenas esteve em Roraima, sem aviso prévio, para tentar convencê-los das vantagens de liberar a exploração de recursos naturais em suas terras, que ocupam 96 mil quilômetros quadrados. Os deputados mencionados ? Eduardo Valverde (PT-RO), Édio Vieira Lopes (PMDB-RR) e Márcio Junqueira (DEM-RR) ? negaram a intenção.
"Talvez tenha sido precipitada a nossa visita, que faz parte dos trabalhos da comissão. Poderíamos ter deixado para depois. Mas asseguro que não houve qualquer tipo de indução sobre um projeto de lei que não foi sequer aprovado", afirmou Valverde. O parlamentar, relator da proposta 1.610/1996, que legaliza a exploração de minérios em terras indígenas, teria oferecido presentes, tais como facões e anzol, aos ianomâmis durante a visita, segundo relato de índios que acompanharam os deputados.
"Mentiras"
"Eu servi de intérprete durante a visita e afirmo que o nosso povo ficou muito chateado. Primeiro porque os parlamentares não avisaram que iriam. Quando chegaram, não queriam me deixar acompanhar a visita. Depois ofereceram presentes e convidaram nosso cacique para ir ao Canadá ver como é feita a exploração de minério", afirma Davi Kopinawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami. "Nós não acreditamos mais nas mentiras dos brancos, não queremos saber de minério. Essa exploração vai trazer doenças e mortes para nosso povo."
As lideranças indígenas distribuíram um ofício ontem, durante reunião da comissão que analisa o projeto de exploração de minério, para mostrar a indignação com o ocorrido. Antes, foram recebidos pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos, o deputado Luiz Couto (PT-PB), para o qual reclamaram sobre as condições precárias de saúde nas aldeias ianomâmis, localizadas no Amazonas e em Roraima. Os índios relataram que desde outubro estão praticamente sem atendimento. FONTE: Correio Braziliense ? DF