Andrea Vialli
Couro de jacaré, ''''couro'''' feito com borracha, bebidas energéticas à base de açaí e madeira certificada são alguns exemplos de oportunidades de negócios na Amazônia que vêm dando certo ao apostar na exploração não-predatória da floresta. Os casos foram levantados pelo jornalista holandês Meindert Brower, que passou os últimos dois anos na Amazônia catalogando negócios que pudessem auxiliar na preservação dos recursos naturais e produzir riqueza para as comunidades locais. O resultado da pesquisa foi reunido no livro Amazon Your Business: Opportunities and solutions in the rainforest, recém-lançado na Europa.
''''Minha idéia foi reunir os exemplos de negócios economicamente viáveis, mas que ao mesmo tempo tivessem uma comprovação de práticas ambientais corretas'''', diz Brower.
Entre os 18 empreendimentos listados no livro estão quatro empresas brasileiras. Uma delas é a fabricante de cosméticos Natura. As outras três são pequenas empresas da região: a Iiba, companhia de produtos de madeira certificada de Rio Branco, no Acre; a Tawaya, que fabrica sabonetes tendo como matéria-prima o fruto do murumuru, uma palmeira nativa; e a Treetap, que produz o chamado couro vegetal - um tecido emborrachado que pode ser usado para fabricar bolsas,calçados e brindes corporativos.
O livro traz também exemplos de empresas estrangeiras que estão ganhando dinheiro com os recursos da floresta: caso da Sambazon, empresa americana de açaí orgânico, a suíça Precious Wood, de madeira certificada, e a francesa Guayapi Tropical, que fabrica bebidas e cosméticos à base de guaraná.
Para Brower, as oportunidades para empresários brasileiros dispostos a explorar esses crescentes nichos tendem a crescer, pois redes de lojas especializadas em produtos naturais, como a Whole Foods , e gigantes do consumo, como a Unilever, estão buscando produtos com apelo ambiental. ''''Sustentabilidade está se tornando uma forte tendência de consumo de massas e a marca Amazônia é forte'''', diz.
O couro vegetal da Treetap é um exemplo de sucesso fora do País. A empresa exporta 80% da produção de 20 mil lâminas de couro vegetal por ano, e dá sustento para 50 famílias de seringueiros da região de Boca do Acre (AM). Cada família funciona como um núcleo de produção autônomo, de modo que o produto é beneficiado na própria região extrativista e os seringueiros obtém uma remuneração mais justa pela borracha. ''''O mercado não paga mais que R$ 2 pelo quilo da borracha. Nesse sistema de produção, os seringueiros conseguem vender por R$ 16'''', diz Beatriz Saldanha, presidente da Treetap.
Até ambientalistas convictos concordam em um ponto: para diminuir as taxas de desmatamento, é preciso criar oportunidades de renda para os 20 milhões de habitantes da Amazônia. ''''É melhor floresta manejada que pasto'''', diz o engenheiro florestal Marcelo Marquesini, do Greenpeace. Marquesini diz que até a exploração controlada pode ser arriscada. ''''Não há estudos que atestem que o extrativismo não vai exaurir os recursos no futuro, embora o risco seja menor que o da extração de madeira.''''
NEGÓCIOS DA AMAZÔNIA
Treetap: Empresa brasileira, produz o ''''couro vegetal'''', um tecido emborrachado usado para fazer bolsas e outros acessórios
Iiba: Empresa de Rio Branco (AC), fabrica produtos como artigos de decoração feitos com madeira certificada com o selo FSC
Tawaya: Localizada em Cruzeiro do Sul (AC), produz sabonetes a partir do murumuru coletado por comunidades extrativistas
Repsa: Empresa boliviana que produz chocolates gourmet com uma espécie de cacau nativo
Fan: Organização que beneficia couro de jacaré criado em cativeiro na Bolívia, com geração de renda para comunidades locais
Green Gold: Empreendimento de mineração controlada de ouro na Colômbia, feito em pequenas áreas e sem uso de mercúrio
Precious Woods: Empresa suíça de extração e produção de toras de madeira certificadas com o selo FSC FONTE: Estado de São Paulo ? SP