Tiago Décimo
Salvador - Cerca de 500 pessoas, entre religiosos, integrantes de tribos indígenas e de movimentos sociais organizados do médio São Francisco bloquearam, entre as 6 horas e as 16 horas de ontem, a ponte da BR-242 que atravessa o rio, no município de Ibotirama (BA), 646 quilômetros a oeste de Salvador. Os manifestantes ergueram faixas e montaram barracas na rodovia.
"A manifestação foi um ato de apoio à greve de fome do bispo Luiz Flávio Cappio e uma ação de repúdio ao projeto de transposição que está sendo feito", afirmou o diretor do Movimento de Pequenos Agricultores, Anderson Santos, um dos organizadores da manifestação.
Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas (Ceta) na região oeste da Bahia, Bartolomeu Guedes acrescentou que o protesto foi realizado para avisar a população sobre "o erro que é o projeto de transposição". "Temos de chamar a atenção para a situação absurda que é fazer um projeto como esse enquanto a população ribeirinha passa sede."
Durante a manifestação, os motoristas que passavam pela rodovia, que liga a capital baiana ao Distrito Federal, tiveram de suportar, parados, por pelo menos duas horas para seguir viagem, sob o sol que chegou a deixar a temperatura próxima dos 40 graus, no início da tarde. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, uma das vias era liberada a cada duas horas, para aliviar o trânsito.
Depois do bloqueio, os manifestantes seguiram, em caminhada, ao centro de Ibotirama, onde realizaram um ato de protesto contra a transposição. Segundo a organização, cerca de mil pessoas participaram da mobilização, até o início da noite.
"Este é o momento de as organizações aproveitarem para discutir os modelos de desenvolvimento, de enriquecimento a qualquer custo, que estão sendo propostos à população", disse d. Cappio, em Sobradinho (BA), 554 quilômetros a noroeste de Salvador, ao saber da ocupação da ponte e de outras manifestações em seu apoio.
Segundo a assessoria de imprensa da Articulação São Francisco Vivo, a coordenação nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), por exemplo, passou o dia em jejum e em orações - assim como o bispo está há nove dias.
MÉDICO
A quarta-feira marcou o primeiro dia em que o bispo deixou de ingerir apenas água filtrada do São Francisco. "Tivemos de passar a administrar soro caseiro para manter a saúde do religioso", afirmou o médico Rogério Leal, que está acompanhando o bispo. De acordo com ele, d. Cappio começou ontem a apresentar sinais de anemia e desidratação.
D. Cappio disse que a recomendação de ingestão do soro caseiro já havia sido feita pelo médico Edil Santos, que o acompanhava voluntariamente desde o início da greve de fome, no dia 27, mas estava relutante em segui-la. "Agora, quero manter o estado físico melhor por mais tempo, para seguir no protesto", justificou. FONTE: Estado de São Paulo ? SP