Cerca de seis mil trabalhadores rurais estão concentrados desde esta segunda-feira (12) em Brasília para participar da 14ª edição do Grito da Terra, promovido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) com o apoio da Central dos Trabalhadores e Trabalhadores do Brasil (CTB), Central Única dos Trabalhadores (CUT) e União Internacional dos Trabalhadores na Agricultura (Uita).
Os manifestantes querem entregar nesta quarta-feira (14) ao presidente Lula uma pauta de reivindicação que tem os seguintes pontos como destaques: o avanço da reforma agrária com assentamento de 250 mil famílias por ano; mais recursos para assistência técnica; a garantia da alteração do índice de produtividade; políticas públicas para atender os trabalhadores que vão perder o emprego
Entidades como a CTB prestigiaram o Grito da Terra com o avanço da mecanização nos plantios de cana-de-açúcar; e a liberação de R$ 14 milhões para crédito de custeio e investimento para a safra 2008-2009.
A questão polêmica sobre a produção de biocombustível no Brasil e no mundo, que segundo organismos internacionais afetaria a produção de alimentos, também é uma preocupação da liderança do movimento. "Nós estamos aqui em conjunto com a CUT, CTB e Uita para fazer uma campanha nacional e internacional de combate à oligarquia do álcool que quer dizer ao mundo que a situação (produção de etanol) no Brasil está resolvida, mas nós temos infelizmente trabalho escravo (no plantio de cana) e trabalhadores explorados. Queremos dizer aos usineiros que para vender álcool no mercado internacional vão ter que acertar as contas com os trabalhadores", discursou o presidente da Contag, Manoel José dos Santos, no ato público promovido hoje pelo Grito da Terra em frente ao Congresso Nacional.
O presidente da Contag diz que a produção de etanol no país não preocupa de imediato, no entanto, é necessário que se faça um planejamento a médio e longo prazo para que sejam definidos os locais onde se pode ou não plantar cana, ou seja, um zoneamento agrícola sobre a cultura. "O foco deles (usineiros) é produção de combustível e lucro; então se continuar do jeito que vai dentro de pouco tempo teremos reflexos muito fortes, assim como ocorre nos Estados Unidos com a produção do álcool de milho", disse.
Para o secretário-geral da Contag, David Wilkerson, é fundamental que o etanol tenha sua importância no desenvolvimento econômico do país, mas não pode haver uma política governamental que prejudique o desenvolvimento sustentável centrado na agricultura familiar. "Nós entendemos que qualquer propósito de desenvolvimento deva passar pela valorização e fortalecimento da agricultura familiar. Isso só acontecerá com a reforma agrária que leve em conta uma correta política de crédito e de assistência técnica", disse David Wilkerson.
Também presente no ato, o presidente da CTB, Wagner Gomes, disse que a valorização da agricultura familiar é fundamental para que o país alcance o desenvolvimento. Segundo ele, a pauta de reivindicação do Grito da Terra sai fortalecida quando prioriza essa questão.
Dados do próprio governo federal apontam que são mais de 4 milhões de estabelecimentos familiares representando 84% dos imóveis rurais no país. "De cada dez trabalhadores do campo, cerca de oito estão ocupados em atividades familiares rurais. Quase 40% do valor bruto da produção agropecuária - o PIB rural - vêm da agricultura familiar", descreve um documento da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). FONTE: Portal Vermelho - 13/05/2008