Carolina Brígido - O Globo; GloboNews TV; Ibahia.com; O Globo Online; Agência Brasil
SALVADOR - Uma liminar concedida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região suspendeu temporariamente as obras de transposição do Rio São Francisco. A decisão foi tomada para que ocorra uma reavaliação das terras indígenas ao longo da Bacia de São Francisco. A Advocacia Geral da União (AGU) já apresentou recurso contra a decisão do desembargador Souza Prudente. A AGU se baseará em uma decisão do ex-ministro Sepúlveda Pertence. Em 2005, ele definiu o Supremo Tribunal Federal (STF) como o foro único para tratar da transposição. Na época, vários tribunais brasileiros decidiam de formas diversas sobre o tema. Daí a necessidade de unificação do foro.
A liminar, porém, foi motivo de comemoração pelo movimento em defesa do rio, em Sobradinho, no Norte da Bahia. Mesmo assim, o bispo dom Luis Cappio reafirmou a greve de fome, que completa 15 dias nesta terça-feira.
Cappio disse que a liminar pode ser derrubada a pedido do governo federal e que sua condição de suspender o jejum é o arquivamento do projeto de transposição do rio e a retirada das tropas do Exército. Até o início da manhã, o comando de engenharia do Exército não tinha sido notificado da liminar. Na semana passada, o Ministério da Integração Nacional assinou um novo contrato com empresas que deverão fazer os serviços de engenharia e terraplanagem das obras.
Em entrevista ao GLOBO ONLINE, Cappio justificou sua decisão e atacou o presidente Lula, dizendo que ele não faz mais jus de ser chamado de nordestino .
Bispo recebe soro caseiro desde o 9º dia
Dom Cappio está tomando soro caseiro desde o 9º dia de greve de fome para combater o início de anemia e desidratação. A recomendação é do médico Rogério Leal, que determinou a ingestão de cerca de três litros diários do soro. Com a medida, é assegurada a reposição diária de glicose, potássio e sódio, ajudando a manter o equilíbrio físico e evitando a desidratação.
Esta é a segunda vez em dois anos que o bispo deixa de se alimentar pela mesma causa. A greve de fome anterior durou 11 dias e foi encerrada após um acordo com o governo federal. Os manifestantes são contra a transposição do Rio São Francisco porque acreditam que o projeto causará danos ambientais irreversíveis, além de beneficiar apenas a população com maior poder aquisitivo. O medo é de que ribeirinhos e cidadãos que dependem do rio para a sobrevivência percam sua fonte de renda.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco às Bacias do Nordeste Setentrional pode atingir cerca de 12 milhões de habitantes da região mais árida do Brasil. As obras dos primeiros trechos começaram em junho deste ano e estão sendo executadas pelo Batalhão de Engenharia do Exército.
Organismo da CNBB apóia protesto do religioso
A greve de fome ganhou apoio também da Comissão Brasileira Justiça e Paz, organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que divulgou nota em que, assim como o religioso, defende uma discussão maior sobre as obras de transposição do Rio São Francisco. Já o Vaticano mantém silêncio e trata como assunto local o jejum do bispo.
O presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, e o secretário geral da entidade, dom Dimas Lara Barbosa, serão recebidos pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira, às 9h, no Palácio do Planalto. A audiência foi confirmada no começo da tarde desta terça-feira pela entidade. O encontro foi solicitado para discutir a manifestação do bispo de Barra contra a transposição do Rio São Francisco. Depois da audiência com o presidente, dom Geraldo Lyrio e dom Dimas Lara darão entrevista coletiva na sede da CNBB em Brasília.
Dom Cappio afirmou se inspirar na resistência pacífica do líder indiano Mahatma Gandhi, contra a ocupação inglesa em seu país, em 1932. Moradores e padres da diocesse de Barra, onde o frei mora e exerce liderança, vem visitando frei Luiz desde o final da semana passada. O grupo mantém um de revezamento de apoio ao ato. FONTE: Globo Online ? RJ