Fabíola Salvador e Ana Carolina Moreno
Brasília - O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, anunciou ontem uma alteração no sistema de fiscalização das empresas de laticínios sob controle do Serviço de Inspeção Federal (SIF), uma semana depois que a Operação Ouro Branco da Polícia Federal (PF) desmantelou uma quadrilha que adicionava de forma irregular substâncias químicas ao leite. De acordo com o ministro, uma equipe formada por três fiscais federais agropecuários - dois médicos veterinários e um agente de inspeção sanitária - fará auditorias aleatórias nas empresas.
As vistorias serão mensais e definidas por sorteio. Até agora, a fiscalização é de responsabilidade de um agente que trabalha permanentemente nas empresas. Aos poucos, a figura do fiscal fixo será eliminada, explicou o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Nelmon Oliveira da Costa. Segundo ele, as auditorias serão feitas num primeiro momento em Minas, São Paulo, Goiás e Rio Grande do Sul.
"Esperamos que a nova fiscalização aumente a eficiência", disse o ministro. Ele acrescentou que o grupo responsável pelas auditorias fará uma avaliação criteriosa do funcionamento da empresa, de seus processos produtivos e também do desempenho dos servidores responsáveis pelo SIF enquanto ainda trabalharem nas empresas. Na Operação Ouro Branco, um fiscal foi preso acusado de participação na fraude que envolveu cooperativas de Minas.
A alteração agradou aos fiscais e à bancada ruralista da Câmara. O vice-presidente da Associação Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários (Anffa), Wilson Roberto de Sá, disse que a mudança permitirá o aprimoramento da fiscalização. No sistema atual, contou, cada fiscal é responsável por oito empresas, o que torna inviável o controle efetivo nas 1.700 indústrias de lácteos do País. "Não é possível acompanhar o processo como se deveria", afirmou. Do total de indústrias de laticínios, 200 são voltadas exclusivamente para a produção de leite UHT.
Em entrevista coletiva tumultuada, o ministro disse que as fraudes ocorridas em Minas não têm relação com o número de fiscais federais e chamou as pessoas que fraudaram o produto em Minas de "vigaristas". Segundo números do ministério, há no País 1,3 mil fiscais federais agropecuários, dos quais 212 vistoriam estabelecimentos industriais de leite e derivados.
Na entrevista, Stephanes tentou tranqüilizar a população e disse que recomendava o consumo do produto. "Pode trazer que eu bebo", afirmou ao ser questionado se continuava tomando leite. "O fato de duas dúzias de pessoas desonestas terem adulterado um produto criou a dúvida em relação à qualidade da produção brasileira, mas o leite continua sendo de ótima qualidade", disse.
Em São Paulo, além dos nove lotes de leite interditados na semana passada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), todas as marcas de leite integral longa-vida serão fiscalizadas. Desde sexta-feira, a Fundação Procon já encaminhou 45 amostras de leite recolhidas na cidade para verificar se o produto foi adulterado. FONTE: Estado de São Paulo ? SP