Depois de elevar os juros e o superávit primário, o governo agora pretende controlar a inflação com um incremento na produção de alimentos. Os agricultores terão R$ 65 bilhões para financiar a próxima safra e outros R$ 13 bilhões serão destinados a produtores familiares, medidas que farão parte de pacote agrícola a ser anunciado no início de julho pelo presidente Lula.
O governo vai divulgar também na próxima semana de onde virão R$ 14,2 bilhões para cumprir a nova meta oficial de superávit primário, elevada de 3,8% para 4,3% do PIB.
Lula fez uma reunião ontem com a equipe econômica, economistas de fora do governo e o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) para discutir o andamento de medidas de combate à inflação e eventuais novas propostas. Nas palavras de um ministro, o governo vai continuar a monitorar o comportamento da inflação a fim de mantê-la na meta oficial.
Na área agrícola, o ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) disse que as medidas discutidas ontem serão suficientes para elevar a produção de alimentos em 5%, alcançado 148 milhões de toneladas.
"Não queremos cair na armadilha em que alguns países estão caindo de tabelar e não ter produto, ou limitar as exportações ou até de taxar, que é o caso da Argentina, e acabar desorganizando o próprio setor produtivo", disse Stephanes.
No ano passado, o financiamento à safra foi de R$ 58 bilhões e à agricultura familiar, de R$ 12 bilhões.
Designado porta-voz da reunião, o ministro Guido Mantega (Fazenda) deu rápida entrevista, na qual respondeu a poucas perguntas e da qual saiu puxado por um assessor. Lula não gostou do vazamento de que haveria a reunião, noticiada pela Folha e que acabou ocorrendo num horário em que o mercado financeiro estava aberto.
Mantega fez avaliação otimista da situação econômica. "O balanço é que a economia brasileira continua em trajetória muito saudável, que a inflação que temos é passageira, que vem principalmente de fora."
O ministro disse que o governo fará novos cortes de gastos para conseguir elevar o superávit primário, economia que é feita para pagar os juros da dívida, de 3,8% para 4,3% do PIB.
Apesar de sustentar o discurso de que mantém de pé a proposta do fundo soberano (usar parte do superávit para gastos fora do país financiando empresas brasileiras, por exemplo), a proposta está praticamente engavetada no momento. E o 0,5 ponto percentual a mais de superávit neste ano deverá ser dedicado a reduzir a dívida pública. Nos bastidores, Lula já autorizou que se mire meta de 4,5% de superávit.
No entanto, Mantega disse que não haverá redução nos gastos prioritários do governo. Na apresentação que fez durante a reunião, o ministro avaliou que "o aumento do esforço fiscal contrai um pouco o consumo e reduz a necessidade de juros mais altos".
Para ele, as medidas tomadas pelo governo, como alta de juros e da meta de superávit, elevação do imposto sobre empréstimos e desonerações, estão surtindo efeito e desaquecendo a economia em medida considerada suficiente para evitar o descontrole de preços.
O ministro disse que o governo não estuda medidas adicionais para conter o crescimento do crédito. O objetivo é fazer com que o país cresça em torno de 5% neste ano e repita o desempenho no ano que vem.
Além de Mercadante, Mantega e Stephanes, participaram da reunião Paulo Bernardo (Planejamento), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Franklin Martins (Comunicação Social), o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e o professor Luiz Gonzaga Belluzzo. Como Henrique Meirelles está viajando, foi representado pelo diretor do BC Alexandre Tombini. FONTE: Folha de S. Paulo