O cenário para os produtos agrícolas aponta para ofertas crescentes no mundo e no Brasil, e de preços também elevados - ainda que não mais em seus patamares recordes -, sustentados pelo crescimento mais acelerado da demanda global por alimentos e também pelo uso, no caso dos Estados Unidos, de milho para a produção de etanol.
Seria o quadro ideal para os agricultores, se esse movimento não fosse acompanhado pela escalada do petróleo, que tem encarecido os insumos e que, associada com o próprio aumento da demanda por produtos como sementes e fertilizantes, vem pressionando margens no campo.
Em linhas gerais, é a leitura que se faz. Nos defensivos, contudo, a ressalva a se fazer é expressiva. De acordo com dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA) compilados pela Associação Nacional de Defesa Vegetal, o custo dos defensivos está, na verdade, em queda no Brasil ao menos desde 2006. Não por coincidência, naquele ano, o uso de produtos genéricos superou o das chamadas "especialidades" (defensivos mais caros, que não tiveram a patente quebrada) pela primeira vez no país.
Tome-se o exemplo da soja. Em janeiro de 2006, eram necessárias 10,6 sacas de soja para comprar uma cesta de defensivos que, em média, são utilizados por hectare. Essa relação caiu para 7,9 em janeiro de 2007 e para 5 sacas em janeiro deste ano, menos da metade do apurado apenas dois anos atrás.
Pode-se argumentar que a relação de troca teria sido favorecida pelo aumento do preço da soja nesse intervalo, mas o valor nominal da cesta de defensivos também caiu. Foi de R$ 286,1 por hectare em janeiro de 2006, R$ 225,79 após 12 meses e R$ 203,65 em janeiro deste ano. O mesmo fenômeno foi verificado nas outras culturas avaliadas pelo estudo, como cana-de-açúcar, café, milho, laranja e algodão. Um dos casos emblemáticos foi o do feijão, que viu a relação de troca cair de 7 sacas por cesta de defensivos para 1,5 no mesmo intervalo de 24 meses.
Uma das grandes responsáveis pelo fenômeno foi a disseminação dos produtos genéricos no mercado, afirma José Otavio Menten, diretor executivo da Andef. "A indústria aumentou a produção e percebeu que não adianta ofertar um produto com preço muito alto porque o produtor não terá como comprar", disse.
O mercado brasileiro de defensivos movimentou no ano passado US$ 5,4 bilhões. A fatia dos genéricos foi de US$ 2,9 bilhões, ou 54,6%. A diferença de preços entre as especialidades e os genéricos atesta-se pelo volume físico das vendas. Com fatia de 45,4% do faturamento, as especialidades responderam por apenas 11% do volume físico de vendas.
As pesquisas para desenvolvimento de novos produtos ou aperfeiçoamento dos já existentes também colaboraram para a redução dos gastos com defensivos, avalia Menten. Produtos mais eficazes exigem menos aplicações para o combate de pragas, o que leva a menos compras do insumo.
A análise generalista da alta dos preços dos insumos agrícolas tem que ser lida com ressalvas, segundo o diretor executivo da Andef. A generalização ocorre, segundo ele, porque usualmente é tomada como parâmetro de análise dos defensivos a variação do preço do glifosato.
Matéria-prima largamente usada na produção de herbicidas - que são, por sua vez, a classe de defensivos de maior faturamento do mercado -, o glifosato encarece com o petróleo, do qual se origina. "Não dá para analisar os defensivos como se analisa os fertilizantes, que acompanham diretamente o petróleo", diz Célia Ferreira, pesquisadora do IEA que coordenou os estudos. Uma nova versão do levantamento deve ser concluída nesta semana.
FONTE: Valor Econômico - 19/05/2008