A interdição das cooperativas mineiras Coopervale, de Uberlândia, e Casmil, de Passos, deverá impactar as vendas do setor de lácteos em Minas Gerais. Algumas indústrias reconhecem que a credibilidade junto aos consumidores foi afetada depois que a Polícia Federal descobriu que as duas adulteravam o leite.
O presidente da Associação Brasileira do Leite Longa Vida (ABLV), Wellington Braga, reconhece que pode haver queda de consumo. Ele, que também é presidente da cooperativa Ibituruna, de Governador Valadares, disse que o telefone de atendimento aos consumidores da entidade registra um elevado número de chamadas com pedidos de esclarecimento sobre a procedência do leite utilizado.
O diretor-executivo da ABVL, Nilson Muniz, afirmou que não houve alteração nas vendas de leite. "Esse episódio não reflete o que é o setor de leite longa vida", disse.
Para o presidente da Leite Brasil, Jorge Rubez, "é possível que [as fraudes venham a dificultar as vendas" de leite porque o consumidor fica receoso. Mas disse que "é pouco provável" que as cooperativas acusadas tenham fornecido leite para regiões fora de Minas Gerais. "A captação delas representa 0,5% dos 26 bilhões de litro de leite que o Brasil produz por ano".
A Parmalat, que comprava leite das duas cooperativas, as descrendenciou como fornecedoras após o episódio. E informou ontem, por meio de sua assessoria que "não houve reflexo comercial".
Também por meio da assessoria de comunicação, o Carrefour informou que as acusações de fraudes no leite "não afetaram em nada as vendas" em sua lojas.
Em Minas, o presidente da cooperativa Cemil, João Bosco Ferreira, prevê perdas. Com sede em Patos de Minas, a Cemil informou que não compra leite de terceiros.
A preocupação espalhou-se por Minas Gerais ontem. No Procon de Belo Horizonte, ontem foi um dia cheio. Muitos consumidores procuraram o órgão de defesa querendo informações sobre as marcas que estão sob risco. O Procon informa que não pode tomar providências, como pedir a retirada do produto das gôndolas, sem dados conclusivos de que o leite contaminado chegou ao município.
Para o secretário estadual da Agricultura, Gilman Viana, o consumidor poderá diminuir a compra de leite longa vida. Ele afirma, porém, que será apenas uma "leve flutuação" e diz que não acredita em quedas significativas.
A Polícia Federal, na operação Ouro Branco, interditou as cooperativas mineiras sob a acusação de que adicionaram soda cáustica e água oxigenada no leite. A suspeita é de que os químicos tenham sido acrescentados para garantir o aumento do prazo de validade.
O Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado de Minas Gerais (Silemg) informou que as duas cooperativas interditadas não fazem parte do quadro de associados. Minas é responsável por 30% da captação de leite do país.
A prefeitura de Pouso Alegre, que comprava 688 litros de leite por dia da Casmil para merenda escolar, informou que entrará com ação judicial contra a cooperativa de Passos. Vai também pedir indenização pelo estoque de leite que foi descartado após a denúnica.
Ao menos uma creche municipal, que atende 150 crianças já relatou problemas recentes. Em agosto, 22 crianças do bercário tiveram diarréia por três dias. A suspeita é de que o episódio tenha relação com a contaminação do leite.
O diretor da Casmil, Evandro Freire Lemos, tem alegado que a soda cáustica e a água sanitária era utilizada apenas para lavar tanques e caminhões. Segundo ele, a explicação mais plausível é de que um funcionário não tenha enxaguado direito os tanques.
As comissões de Agricultura e de Defesa do Consumidor da Câmara aprovaram ontem a realização de audiência pública para tratar do esquema de fraude no leite descoberto pela Polícia Federal. Serão convidados representantes da PF, do Ministério da Agricultura, da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA). Os deputados querem antecipar-se a uma nova rodada de análises em curso nos laboratórios do ministério que podem resultar na denúncia de envolvimento de novas indústrias e laticínios. (Colaborou Mauro Zanatta, de Brasília) FONTE: Valor Econômico ? SP