Edson Luiz
Da equipe do Correio
Cerca de 230 homens da Polícia Federal e da Força Nacional de Segurança Pública começam a ocupar diversas áreas no município de Tailândia, no Pará, onde fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apreenderam mais de 15 mil metros cúbicos de madeira extraídas ilegalmente. Na semana passada, madeireiros protestaram na cidade contra a ação do governo, insuflando a população contra os policiais militares que davam respaldo aos fiscais. Este foi um dos principais motivos que levaram a PF a transferir um grande efetivo para o município, iniciando a Operação Arco de Fogo, desencadeada para combater crimes ambientais em 11 áreas do Norte e Centro-Oeste do país.
As ações em Tailândia serão comandadas diretamente pelo delegado Daniel Sampaio, coordenador-geral de Defesa Institucional da PF e responsável pela operação, e que já está na região desde ontem. A Polícia Federal vai dar segurança aos fiscais do Ibama, que hoje já contam com a proteção de 200 policiais militares que foram enviados ao município depois dos incidentes da semana passada. Além disso, a PF vai começar a fiscalizar cerca de 130 serrarias para verificar a procedência da madeira. Ontem, recomeçou a retirada de toras apreendidas pelo Ibama, que lotaram 16 carretas com 205 metros cúbicos.
A Polícia Federal não tem data para sair da região, assim como de outros 10 pontos onde estão sendo instaladas bases da Operação Arco do Fogo, que terá como foco os estados de Rondônia, Mato Grosso, Maranhão e Pará. A intenção é fazer um cerco na área onde existe uma maior concentração de derrubadas. No início do mês, imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectaram um avanço na devastação, o que levou o governo a antecipar uma ação contra os crimes ambientais. A Operação Arco do Fogo estava prevista para acontecer somente nos próximos meses.
Na região de Tailândia, o Ibama estima que pelo menos 70% da madeira que movimenta a economia local tenha origem ilegal, fato negado pelos empresários do ramo na cidade. Para pressionar as autoridades federais e a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), a encerrar a repressão, as serrarias ameaçam demitir até 15 mil empregados, além de ingressarem com ações na Justiça para recuperar as toras apreendidas nos últimos dias. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) calcula que haja pelo menos 50 mil metros cúbicos de madeira em cerca de 150 estabelecimentos existentes da área próximo ao município.
Governadora quer ajuda
A governadora do Pará, Ana Julia Carepa (PT), diz que seu estado não pode pagar sozinho o preço do combate ao desmatamento no Pará, que chega, segundo ela, a R$ 2 bilhões ao ano, o equivalente a 7% do PIB estadual. Carepa pretende pedir ajuda ao governo federal e espera se reunir com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para apresentar a ela quanto custa proteger a floresta. Segundo a governadora, só em ações de fiscalização e retirada de madeira, iguais a que está ocorrendo em Tailândia, são gastos R$ 50 milhões por ano. "Não queremos destruir a economia do estado. Por isso, alguém tem que pagar a conta", diz.
Outra preocupação do governo paraense é a criação de alternativas econômicas para a população das cidades que hoje vivem da extração da madeira. Carepa diz que pretende levar a esses municípios ações sociais de capacitação profissional, incentivo à agricultura familiar e cursos de formação de fiscais ambientais. A idéia é apresentar às pessoas uma alternativa à ilegalidade.
Carepa sabe que a estratégia é fundamental para que o combate ao desmatamento seja bem sucedido. Dependente do trabalho da extração, a população pode ser facilmente manipulada. "A reação das pessoas em Tailândia (terça-feira passada) foi incentivada por madeireiros inescrupulosos. Foi distribuída cachaça na cidade. Tratou-se de uma tentativa de intimidar o Estado, mas não vamos nos deixar intimidar. É questão de honra", avisa. FONTE: Correio Braziliense ? DF