Dar oportunidade a jovens de baixa renda de ingressarem no promissor mercado de trabalho das energias renováveis é o objetivo do Curso de Energias Renováveis e Desenvolvimento Sustentável, projeto do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis (Ider), realizado em parceria com Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará (CEFET/CE), Wobben e USAID (United States Agency for International Development - Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional). A última turma, formada por vinte jovens de 17 a 21 anos, comemorou a formatura nesta segunda-feira.
Lançado em 2002, o projeto já capacitou 225 alunos de baixa renda em Fortaleza e Natal. Hoje, 59% deles estão no mercado de trabalho e vários (16%) prosseguiram os estudos no nível superior. Há, ainda, um grupo que montou o próprio negócio: uma fábrica de biscoitos que utiliza um forno solar, sem o uso de gás.
"Com a implantação de vários parques eólicos, usinas de biodiesel, centrais de energia solar e outras iniciativas, surgem vagas nesse promissor mercado de trabalho. O que nós fazemos é dar uma chance para quem mais precisa", explica o coordenador do projeto, Luis Massilon.
Certificado pelo CEFET, o Curso tem uma carga horária de 634 horas-aula, que inclui disciplinas de eletricidade básica, energias renováveis, meio ambiente e preparação para o mercado de trabalho.
Trajetória acadêmica
Com o projeto ´Dificuldades de aprendizagem de conceitos de Física em alunos de EJA´, a universitária Kete Martins Rufino foi uma das vencedoras do Mundo Unifor, encontro universitário de incentivo à pesquisa. A trajetória acadêmica de Kete começou no Ider, em 2005, como aluna do Curso de Energias Renováveis e Desenvolvimento Sustentável.
Criado para inserir jovens de baixa renda no inovador mercado de trabalho das energias renováveis, o projeto teve um sucesso inesperado como trampolim para o ensino superior. Dos 225 jovens já capacitados desde 2002, 36 deles decidiram continuar estudando.
Estudante de Licenciatura em Física no CEFET e de Sistemas de Informação na FA7, Kete garante que sempre utilizará os conhecimentos adquiridos no Ider. ´Valorizar o meio ambiente, ver onde podemos utilizar energias renováveis e cuidar do lixo são necessidades para todo tipo de trabalho´, explica a universitária.
O Ider é uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP) apoiada no conceito de desenvolvimento sustentável e preocupada com o meio ambiente, a cultura local e o fortalecimento da participação popular no processo de tomada de decisão.
Projetos
Os projetos do Ider têm como objetivo promover, direta ou indiretamente, o uso das energias renováveis, proporcionando o desenvolvimento sustentável. Em cada iniciativa, o uso de tecnologias apropriadas é avaliado de acordo com a realidade local, conforme a potencialidade de contribuir para resultados efetivos em termos ambientais, tecnológicos e socioeconômicos.
Entre eles estão: agricultura orgânica; biocombustíveis; biodigestores; cisternas; curso de energias renováveis e Desenvolvimento Sustentável; energia renovável na sala de aula; fogões ecológicos; e também o secador solar.
Unir melhorias diretas para população rural carente, promover a preservação florestal e contribuir para evitar o aquecimento global são os principais benefícios do projeto de disseminação de fogões ecológicos.
No Nordeste, é estimado em seis mil toneladas o consumo diário de lenha. Com a adoção deste fogões, a estimativa é de reduzir até 40%.
Ao mesmo tempo, uma queima mais eficiente da lenha elimina o sério problema da poluição intra-domiciliar, causadora de doenças como bronquite e infecções pulmonares.
Uma equipe multidisciplinar - formada por técnicos das áreas de Engenharia, meio ambiente, saúde e ciências sociais - faz um diagnóstico das comunidades onde a degradação ambiental e os problemas de saúde são mais graves. Os moradores são apresentados ao projeto e ajudam na seleção das famílias a serem beneficiadas.
Trabalhadores do local são convidados para etapas da construção, gerando emprego e renda. As atividades de sensibilização continuam com cartilhas, reuniões comunitárias e acompanhamento do uso dos novos fogões. Também é feita a mensuração dos impactos dos indicadores de saúde.
Após a implantação, é iniciada uma série de atividades participativas de preservação ambiental, podendo envolver o plantio de mudas, limpeza de determinadas áreas e adoção de hábitos ecologicamente mais indicados. Os impactos alcançados são verificados nos meses posteriores. Já foram implantadas 100 unidades-piloto, nos municípios de Itapipoca, Pentecostes e Trairi.
FIQUE POR DENTRO
Energias renováveis beneficiam comunidades
Em 11 anos, o Ider já realizou várias ações. O destaque está nos projetos de eletrificação de comunidades rurais, irrigação, uso produtivo das energias renováveis, treinamento e capacitação, produção de biocombustíveis e inclusão digital.
As iniciativas são viabilizadas por parcerias com instituições públicas, privadas e do terceiro setor do Brasil e outros países.
A maioria das comunidades já beneficiadas está no interior do Ceará, mas já foram desenvolvidos projetos em outros sete Estados.
O Curso de Energias Renováveis e Desenvolvimento Sustentável foi criado para inserir jovens de baixa renda no inovador mercado de trabalho das energias renováveis.
Maristela Crispim
Repórter
ENTREVISTA
ALBERT GRADVOHL*
Mercado da energia renovável como futura cultura empreendedora
Qual a importância desse projeto?
Ele não apenas estuda a demanda potencial do mercado pela energia limpa, renovável, como a futura cultura empreendedora do Brasil, principalmente, por ser originada de jovens. É fundamental essa nova postura acadêmica.
Como o senhor vê o futuro da energia limpa no Brasil?
O Brasil é de mercado oligoipolista. Portanto, a viabilidade econômica desse tipo de produto demanda mudanças políticas urgentes, que possibilitem a inserção das novas fontes de energias renováveis.
Que avaliação faz da conquista da fábrica de biscoitos?
As pequenas iniciativas servem de base potencial para o mercado. Tais pilotos são testes de inovação tecnológica aplicada, integrada à pressão social como mecanismo para decisões políticas.
* Professor de Gestão Econômica Ambiental da Unifor FONTE: Diário do Nordeste ? CE