A administração da Floresta Nacional (Flona) de Ipanema, em Iperó (a 125 km de São Paulo), autorizou a instalação de um curso especial de bacharelado em Agronomia destinado a assentados. O curso terá turma de 60 alunos, que ficarão alojados na Flona durante os cinco anos de duração.
Segundo funcionários, a autorização contraria o plano de manejo da unidade de conservação administrada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Também se contrapõe à legislação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, que veda nesses locais atividades que não tenham como fim o desenvolvimento da floresta.
A preocupação dos funcionários, que pediram para não serem identificados, é com o aumento no fluxo de pessoas e veículos na unidade, onde há sítios tombados pelo patrimônio histórico. Todo o esgoto produzido é lançado sem tratamento no Rio Ipanema, que corta a unidade. Por essa razão, foi reduzida a visita de turistas, principal fonte de receita da Flona. Eles são atraídos principalmente pelas construções e ruínas remanescentes da Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, a primeira siderúrgica do Brasil, que funcionou no Império.
Alguns prédios históricos estão ameaçados de desabamento por falta de conservação. Com a instalação do curso, além dos alunos, a unidade receberá diariamente professores e funcionários. A chefe da Flona, Fabiana Bertoncini, disse que se trata de um projeto diferenciado. "É um curso com prazo determinado e ênfase em agroecologia e sistemas sustentáveis." Os assentamentos no entorno da Flona, segundo ela, vão servir como laboratório para os alunos. Sobre os impactos, Fabiana disse que eles já existem por causa do fluxo de visitantes. "Teremos o suporte da universidade (UFSCar) para resolver o problema do esgoto."
O curso começa no segundo semestre deste ano. Resulta de convênio entre a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Faz parte do Programa Nacional de Educação e Reforma Agrária (Pronera) em parceria com movimentos sociais do campo. A cada semestre, os alunos ficarão alojados por quatro meses no local e os outros dois meses irão para os assentamentos de origem. O custo anual por estudante, de R$ 5 mil, será bancado pelo programa.
O Ministério Público Federal informou que pode pedir um estudo de eventuais impactos da nova atividade. "Não somos contrários às atividades, especialmente as de educação, desde que respeitados os ditames legais", afirmou a procuradora Elaine de Sá Proença. FONTE: Estado de São Paulo ? SP