A Polícia Federal transferiu, ontem, para Brasília o prefeito de Pacaraima e principal líder dos arrozeiros, Paulo Cesar Quartiero, preso em flagrante na terça-feira como mandante do atentado a tiros contra os índios que invadiram, um dia antes, sua fazenda na Vila Surumu, dentro da Reserva Raposa-Serra do Sol, em Roraima. A remoção de Quartiero é uma tentativa do governo de esvaziar a resistência à ação da polícia na região para evitar novos confrontos e, ao mesmo tempo, garantir a retirada dos não-índio caso o Supremo Tribunal Federal (STF) decida manter o decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que define a reserva de 1,7 milhão de hectares em área contínua.
Acusado de manter em sua fazenda armas sem registro, artefatos e de insuflar os atentados contra os dez índios feridos na segunda-feira, Quartiero foi indiciado por formação de quadrilha e tentativa de homicídio. Quando ainda se encontrava na sede da Polícia Federal em Boa Vista, o prefeito se recusou a prestar declarações no inquérito aberto para apurar a autoria do atentado. A polícia tem contra ele, um auto de apreensão relacionando farto material explosivo. Em todas as respostas, Quartiero disse que se reservaria o direito de só falar diante de um juiz e só aceitou a sugestão de usar o telefone da polícia para conversar com sua mulher. No início da tarde de ontem ele foi submetido a exames médicos para confirmar que não sofreu agressão por parte dos policiais e em seguida removido para Brasília no avião da Polícia Federal. Além dele, foram transferidos também seu filho, Renato, o cacique (chamado de tuxaua pelos macuxi) Nilo Carlos Borgea e cinco funcionários de Quatiero: Ryan Farias, Edilson Gomes da Costa, Diego Vieira Jesus, Francisco de Assis Costa e Silva e Elton Domingos da Silva.
Tensão diminui
- O clima serenou na área. A Polícia Federal anulou o principal foco de tensão. Vamos aguardar com tranquilidade a decisão do Supremo - disse no final da tarde de ontem o ministro da Justiça, Tarso Genro.
Ele anunciou o aumento de efetivo policial na Raposa/Serra do Sol e afirmou que a ordem do governo é promover um desarmamento geral em toda a região do conflito. Genro disse afirmou que, índio ou não-índio, quem portar arma ilegalmente será preso. A Força Nacional de Segurança deverá enviar mais 100 homens para ajudar a Polícia Federal a pacificar a região.
Ciente de que a prisão de Quartiero e a luta do governo pela manutenção do decreto que define a reserva em área contínua não agradam setores das Forças Armadas, Tarso Genro usou a entrevista coletiva de ontem para tentar atrair a simpatia da área militar. Disse que vai se reunir com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, para discutir um projeto de implantação de novos pelotões nas áreas indígenas na região de fronteira. Na Raposa/Serra do Sol já existem três pelotões especiais. O ministro quer, no entanto, desfazer a tese de que a área contínua na Amazônia é uma ameaça à soberania nacional, conforme afirmou há duas semanas o chefe do Comando Militar da Amazônia, general Augusto Heleno, ao criticar a política indigenista do governo.
- A posição das Forças Armadas é a posição da Constituição Federal. O Supremo é quem vai ditar a posição do estado brasileiro - disse o ministro. Segundo ele, mesmo que o STF anule o decreto do governo e retalhe a reserva, a decisão será respeitada.
Genro concentrou sua artilharia no prefeito preso. Afirmou que ele patrocina as ações que atentam contra a soberania do país e classificou de sabotagem, pistolagem e paramilitares os atos praticados pelos grupos armados sob seu controle.
- Foram ações de enfrentamento sem precedente na região - afirmou. O ministro disse que havia recebido informações apontando que os índios que invadiram a Fazenda Depósito se retirariam da área, o que não aconteceu. FONTE: Jornal do Brasil - 08/05/2008