Uma suspeita de escravidão por dívida e de trabalho degradante em uma propriedade rural de Alta Floresta (MT) levou à prisão em flagrante do dono da fazenda --o que nunca havia ocorrido até então no Estado.
O MPT (Ministério Público do Trabalho) só teve conhecimento da situação na fazenda depois que um dos trabalhadores resolveu abandonar seu alojamento e andar --sem água ou comida-- cerca de 40 km em um atalho aberto na meio da mata fechada para fazer a denúncia ao órgão na cidade.
De acordo com seu relato, ele e dois colegas só poderiam ir embora depois de pagar, com trabalho, alimentos comprados pelo proprietário. O procurador do Trabalho Rafael de Araújo Gomes afirmou que, ainda assim, a travessia não pode ser considerada uma fuga, já que o fazendeiro Altair Vezentin não o impediu fisicamente de ir embora, apenas o obrigou a andar pela floresta para fazê-lo.
"[Vezentin] Disse que ele [trabalhador] poderia ir, mas os outros dois deveriam ficar para garantir o pagamento do que ele havia comprado para eles comerem, uns R$ 400 em arroz, café, açúcar e óleo", afirmou o procurador. Antes uma das principais modalidades de trabalho análogo à escravidão, a ligação por dívida é, hoje, uma prática raramente encontrada pela fiscalização. Normalmente, as péssimas condições de alojamento e alimentação é que acabam por configurar o crime.
A discórdia entre os três e o empregador começou quando eles perceberam que o trabalho combinado --preparar o campo para a pecuária-- seria muito mais complicado do que parecia inicialmente. Eles tentaram então negociar um pagamento mais alto, o que foi negado pelo fazendeiro, segundo o MPT.
A denúncia foi feita na segunda-feira da semana passada, e o procurador chegou ao alojamento na última quinta-feira, quando, com dois policiais militares, prendeu Vezentin --que já foi liberado. Gomes afirmou que os trabalhadores banhavam-se e bebiam a água de um riacho. Como banheiro, usavam a floresta. Ficavam em uma barraca cujo teto era de plástico. FONTE: Maracaju News ? MT