As empresas brasileiras produtoras de maçã decidiram investir em novos mercados no exterior para a variedade gala. No primeiro bimestre, dados da Secex compilados pela Associação Brasileira de Produtores de Maçãs (ABPM) mostram que cresceram as vendas para Rússia, Oriente Médio, África e América Central, e que diminuiu, a partir dessa estratégia, a tradicional liderança da União Européia entre os principais destinos da fruta exportada pelo país.
"Com o estoque europeu de maçãs neste ano em um bom volume, era hora de testar outros lugares", diz Anderson Tholozan, gerente comercial da Rasip, de Vacaria (RS). Entre mercados menos maduros que a UE, a empresa passou a fazer vendas mais significativas inicialmente para o Oriente Médio. Já havia feito embarques experimentais para os Emirados Árabes Unidos, mas nesta safra, além de reforçar as ações neste destino, também está embarcando para a Arábia Saudita, prospectando Omã, Barein e mirando a Rússia.
"São mercados com bom potencial, mas só teremos uma avaliação sólida após três ou quatro temporadas vendendo para lá", afirma Tholozan. O Oriente Médio deve representar 5% das exportações da Rasip em 2008, ante quase nada em 2007. A companhia deverá exportar 15% da produção que processou na safra 2007/08 (42 mil toneladas, mesmo volume da temporada anterior).
A atual conjuntura do segmento colabora para a diversificação. Na avaliação do presidente da ABPM, Pierre Nicolas, a migração para novos países tem dois motivos principais: o tamanho menor da fruta colhida nesta safra e o câmbio, que vem forçando reajustes em dólar para que a exportação seja rentável. A maçã da safra 2007/08, embora tenha qualidade de coloração, bom teor de açúcar e boa pressão - segundo as empresas, está bastante crocante, permitindo um bom período de armazenamento - , está menor do que na temporada anterior, o que dificulta a venda aos europeus, que preferem maçãs graúdas.
Além disso, em alguns dos novos mercados as empresas brasileiras conseguem negociações mais favoráveis, obtendo melhor rentabilidade do que na venda para a UE. Conforme a ABPM, enquanto o preço médio das vendas para a UE foi de US$ 0,66 o quilo no primeiro bimestre, Barbados, na América Central, por exemplo, pagou US$ 0,71. Para o Sudão, o preço, na média, ficou em US$ 1,14 o quilo. Em volume, a Ásia chamou a atenção no período, com a compra de 1,27 mil toneladas, ante 744 em igual intervalo de 2007. Na comparação, o Oriente Médio comprou 1,08 mil toneladas, ante 233.
Ao mesmo tempo em que essas regiões apresentaram crescimento, houve queda das exportações para a UE, que mesmo assim manteve a liderança. As vendas para o bloco saíram de 14,8 mil toneladas, nos primeiros dois meses do ano passado, para 11,7 mil. Para a Holanda, principal porta de entrada das maçãs brasileiras na Europa, o tombo foi de 6,7 mil para 3,5 mil toneladas. Assim, no total exportado, houve retração: 15,1 mil toneladas, contra 16,1 mil no primeiro bimestre de 2007.
O presidente da Renar Maçãs, Roberto Frey, diz que a sua empresa está, neste momento de câmbio desfavorável, apenas substituindo a UE por outros mercados, mantendo o volume exportado em cerca de 20% das maçãs processadas. Mas a Renar retomou vendas para os EUA, depois de três anos de interrupção, e vem trabalhando para avançar na Ásia e no Oriente Médio. A empresa, que tinha a UE como principal mercado externo, responsável por 90% de seus embarques, deve ver essa fatia recuar na safra 2007/08, mas Frey afirma que ainda é difícil saber quanto.
Em 2007/08, a produção brasileira de maçãs deverá atingir 840 mil toneladas, 80 mil das quais para exportação, segundo Nicolas. O presidente da Sociedade Brasileira de Fruticultura, José Luiz Petri, espera colheita de 800 mil a 850 mil toneladas e as mesmas 80 mil para exportação. Em 2006/07, a safra nacional rendeu 993,2 mil toneladas, de acordo com a ABPM. A expectativa dos produtores é que a menor oferta nesta safra eleve os preços de comercialização. FONTE: Valor Econômico ? SP