O trabalho escravo sazonal cresce a cada ano no Ceará. Milhares de pessoas, principalmente homens jovens, com idade entre 15 e 35 anos (predominância maior entre 21 e 25 anos), saem de suas cidades no Interior para enfrentar duras condições de trabalho geralmente nos estados do Centro-Oeste e Sul do País. Viajam principalmente para o corte da cana-de-açúcar, a colheita da laranja e do tomate. O estado brasileiro que mais recebe essa leva de trabalhadores cearenses é São Paulo, com maior concentração nas cidades de Santa Bárbara do Oeste e de Santa Cruz das Palmeiras.
Esses dados constam de uma pesquisa feita por equipe da Comissão Pastoral da Terra (CPT-CE), Universidade Federal do Ceará (UFC) e as Dioceses de Crato, Limoeiro do Norte, Iguatu e Crateús. O estudo, que será concluído no fim deste mês, foi feito com 411 pessoas e servirá para a publicação As Ações Preventivas ao Trabalho Escravo - A Superexploração do Trabalho e Tráfico de Trabalhadores Rurais no Ceará. Os municípios onde ocorrem mais migrações de trabalhadores e trabalhadoras são: Barro, Ererê, Pereiro, Iracema, Pedra Branca, Mombaça, Tauá, Independência, Quixeramobim e Sobral.
O professor José Levi Furtado Sampaio, da CPT/UFC, apresentou ontem esses dados, no auditório Luiz Gonzaga, do Centro de Humanidades da UFC, no Campus do Benfica. Na ocasião, houve o lançamento da 23ª edição do livro Conflitos no Campo Brasil 2007, elaborado pela Comissão Pastoral da Terra. Segundo a publicação, o número de famílias expulsas da terra pelo poder privado teve um aumento significativo: 140% em 2007 com relação ao ano anterior. Em 2006, 1.809 famílias tinham sido expulsas, passando para 2.340 famílias no ano passado. Também cresceu o número de pessoas ameaçadas de morte. Passou de 207 para 259 este ano, ou 25% a mais.
A idéia, segundo o padre Maurizio Cremaschi, da coordenação da CPT/CE, é levar os dados para discussão nas escolas, sensibilizando principalmente adolescentes do ensino médio que estão deixando de estudar para ir para as áreas do corte da cana no Sul do País. "Nas salas de aula não tratam da migração, um problema comum em vários municípios do Interior". Ele disse que será criado um grupo de trabalho para acompanhar todo o processo migratório.
SERVIÇO
Mais informações pelo telefone da CPT/CE: (85) 3226 1413 FONTE: O Povo/CE - 09/05/2008