Bastam alguns minutos de escuta para compreender o tamanho da vitória de três estudantes de uma turma de Direito que enfrentam até a falta de alimentos para continuar a estudar. Carolina dos Santos, Letícia Garcês e Romildo de Assis são alunos da Turma de Direito Fidel Castro da Universidade Federal de Goiás, pelo Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária (Pronera) do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). São acampados e assentados da Reforma Agrária e também integrantes titulares de uma equipe de estudantes que em setembro venceu o 2º Campeonato do Tribunal de Júri Simulado Dr. Édison de Britto Rangel promovido pela Escola Superior de Advocacia (ESA) de Goiás e que nesta semana chegou à semifinal do 2º Concurso Nacional de Júri Simulado da Escola Superior de Advocacia Nacional, ficando entre as seis melhores equipes de todo o País.
A equipe é composta ainda por três suplentes, Nathalia Lemes, Viviane Pires e Thiago Cabaline, alunos do curso regular de Direito da Universidade Federal de Goiás e que tiveram papel importante no excelente desempenho do grupo, que ficou à frente de diversas universidades particulares inclusive do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), que tem como sócio-fundador o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.
O brutal corte no orçamento do Pronera que saiu de R$ 32,5 milhões em 2016 para apenas R$ 3,2 milhões em 2018 faz com que a turma Fidel Castro, que estuda em regime de alternância na Cidade de Goiás, falta de material de limpeza e de alimentação no período em que estão no campus. Mas as dificuldades vão muito além das questões financeiras. Enfrentamos o preconceito e a ignorância de toda uma sociedade que se refletiu também nas estruturas do campeonato, onde diversas vezes sentimos e ouvimos que não seríamos capazes, conta Carolina dos Santos.
Entramos nesse campeonato desacreditados, sob o estigma de que trabalhadores e trabalhadoras rurais não têm capacidade para estudar, que não conseguem aprender, conta Romildo de Assis. Para estar aqui em Brasília foi muito difícil, tivemos que contar com a contribuição de professores que acreditaram em nós e possibilitaram nossa participação. Com esse resultado, estamos quebrando tabus. Na etapa estadual, vencemos literalmente toda a elite do direito goiano, continua o estudante.
O Júri Simulado é uma competição que avalia diversas habilidades, como o conhecimento teórico e o uso da gramática e termos jurídicos, mas também a oratória, a postura, o autocontrole, a empatia com os jurados. A experiência da vida de militância e o conhecimento teórico da equipe se refletiram na análise dos casos e na atuação no campeonato, explica a professora Fernanda Rezek, que, junto com o professor Allan Hahnemann, orienta o grupo. Nós acreditamos no ensino que parte da prática e esse sucesso representa a vitória dessa metodologia que valoriza uma postura crítica, completa Allan.
Para a estudante Nathalia Lemes, a falta de aproximação do curso regular da UFG e a turma do Pronera pode ser uma das razões do preconceito. Este foi o nosso primeiro contato com a Turma Fidel Castro e pudemos conhecer a realidade desses colegas. Durante os dois meses em que nos preparamos juntos, pudemos sair dos achismos e conhecer as particularidades como diferenças de horários, e também formas de pensar e ver as situações, explicou. Â
O colega Thiago Cabaline complementou: Além disso, notamos que a Turma Fidel Castro mostrava muito mais união e apoio aos colegas do que os estudantes da UFG mostram entre si. Nosso grupo chegou a esse resultado por causa do trabalho em equipe, em que os professores tiraram o melhor de cada um de nós.
A trajetória até a semifinal do 2º Concurso Nacional de Júri Simulado da Escola Superior de Advocacia Nacional representa uma grande vitória da luta do campo, dos assentamentos, dos acampamentos, da Reforma Agrária e do Pronera. Nos campos, nas ruas, na luta permanente, a turma Fidel Castro presente, presente! FONTE: Assessoria de Comunicação CONTAG - Lívia Barreto