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RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Entrevista: A agricultura familiar, essa grande desconhecida
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25 de Agosto de 2017


Nelson Godoy
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Eleito secretário geral da Confederação de Produtores Familiares do Mercosul Ampliado (COPROFAM), na décima assembleia do organismo, realizada em 15 de julho em Montevidéu, Broch falou com A Rel sobre a situação da agricultura familiar na América Latina e seus desafios.

-Qual o balanço do encontro para você?

-Para mim houve um bom diálogo entre os representantes das nove organizações filiadas em sete países sul-americanos. Também participaram autoridades regionais, como o novo diretor da FAO para a América Latina e o Caribe, funcionários do FIDA, o ministro da Agricultura do Uruguai, entre outros.

Também contamos com a participação de uma numerosa delegação dos países da América Central (El Salvador, Guatemala, Costa Rica, Honduras), que vieram observar a experiência da COPROFAM, pois querem estabelecer uma maior troca de ideias.

Posteriormente, na assembleia final, construímos uma lista unitária e assumi como secretário geral, que na COPROFAM equivale a ser presidente.

Estou muito honrado com a confiança em mim depositada, consciente de que este cargo implica muitas responsabilidades.

Ganhar em visibilidade Os estados não entendem nem ajudam

-Você mencionava os desafios para a agricultura familiar. Quais são?

-São muitos.

Em primeiro lugar, nem todos os governos dos países da América Latina compreendem de que se trata a agricultura familiar.

É necessário, portanto, e como primeiro desafio, dar visibilidade à agricultura familiar para obter o reconhecimento dos setores governamentais e então conseguir definir políticas específicas para a sua promoção.

Por outro lado, os estados dos países do Mercosul compram alimentos de empresas privadas, em lugar de comprar dos agricultores familiares, que oferecem alimentos saudáveis, produzidos de forma correta, respeitando direitos e meio ambiente.

Haveria que fazer uma gestão para os países adquirirem a produção da agricultura familiar.

Já tivemos no Brasil algumas experiencias com o crédito, o seguro agrícola. Além disso, há no Mercosul um espaço, Reunião Especializada sobre Agricultura Familiar no Mercosul (REAF), para discutir a agricultura familiar vinculada à soberania.

Infelizmente, com a atual conjuntura política na América Latina, vem se dando um processo de retrocesso nestas políticas públicas, especialmente no Brasil, na Argentina e no Paraguai.

O problema da posse da terra Concentração e estrangeirização

-E o que acontece com os Tratados de Livre Comércio (TLC)?

-Os países com TLC não contemplam nem protegem a agricultura familiar. São modelos neoliberais que exportam commodities e importam alimentos. Durante o processo dinamitam a produção agrícola nacional.

A América Latina, aliás, tem a mais alta e vergonhosa concentração de terra. O Brasil é o campeão nesse quesito. Entretanto, a Colômbia e outros países menores do continente não estão tão longe assim.

É um processo que gera muita violência. É sabido que as matanças que acontecem no Brasil são por causa dos conflitos agrários, como também na Colômbia, em Honduras e na Guatemala.

Soma-se a isso, o crescente processo de estrangeirização da terra. No Uruguai e na Argentina há estudos que comprovam que cerca de 30 por cento do território está em mãos de estrangeiros (sejam eles brasileiros, chineses ou de outros países, conglomerados públicos ou privados).

No Brasil não podemos realizar este tipo de estudos, porque não há acesso aos dados.

Também está o grave problema da mudança climática, que incide nos ciclos de produção e envolve a sustentabilidade ambiental.

No Brasil temos uma agricultura cheia de agrotóxicos.

É preciso fazer uma espécie de transição para uma agricultura agroecológica, porque não podemos pretender mudar do dia pra noite o que ensinamos os agricultores durante 20 anos.

Para isso, precisamos de investimento em pesquisa, em assistência técnica, em conhecimento, para podermos viabilizar essa transição para uma agricultura amigável com o ambiente e mais saudável.

Superexploração de recursos naturais Fome para amanhã, sem pão para hoje

-Como avança a mineração? E como afeta à agricultura familiar?

-A mineração a céu aberto é uma atividade que destrói solos e recursos naturais, como a água, e altera os ciclos biológicos.

Veja o que aconteceu no município de Mariana, em Minas Gerais, onde a empresa Samarco terminou gerando o maior desastre ambiental dos últimos tempos, matando gente e acabando com o rio.

O mais triste é que ninguém mais fala do assunto. Sobre a mineração há muito pouca regulação governamental e isto é primordial, porque as grandes empresas possuem muita força.

-A COPROFAM e a Rel-UITA compartilham desafios com relação à agricultura familiar. Deveríamos pensar em uma aliança de trabalho?

-Agora, mais do que nunca, seria fundamental esta parceria, porque a Rel-UITA tem uma história de defesa dos direitos dos assalariados, do ser humano, do ambiente, da soberania alimentar.

É reconhecido o trabalho da Secretaria Regional da Internacional em questões como o acesso e o direito à água e a defesa deste recurso.

A Rel-UITA sempre nos alertou sobre o Aquífero Guarani, sobre a contaminação e privatização deste bem comum

Então, hoje mais que nunca, uma aliança estratégica entre a COPROFAM e a Rel-UITA seria fundamental. Só falta formalizá-la com um convênio de cooperação.

-Desejo a você muito sucesso nesta nova etapa à frente da COPROFAM. -Muito obrigado. Contamos com a Rel-UITA e esperamos em breve poder compartilhar também a sede política em Montevidéu (sorrisos). FONTE: REL-UITA - Gerardo Iglesias



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