A CONTAG promoveu, durante toda a manhã dessa terça (24), uma oficina interna para preparação do documento base do 11º Congresso Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (CNTTR). O encontro proporcionou um momento de reflexão em torno dos desafios diante do cenário que se apresenta, na perspectiva da CONTAG e dos Movimentos Regionais e Internacionais no contexto do CNTTR, contando com a colaboração de representantes da UITA, do governo brasileiro, INESC e ACTION AID. Alessandra Lunas, vice-presidente e secretária de Relações Internacionais da CONTAG, coordenou a oficina e falou sobre o papel da CONTAG ao longo dos últimos 50 anos e os próximos desafios internacionais “Precisamos fazer um olhar sobre como estamos nessa construção. No momento, estamos pensando juntos nos desafios que se apresentam e recebendo sugestões que contribuam com a promoção de nosso projeto de desenvolvimento sustentável”. Diretores, assessores e regionais da CONTAG ouviram e debateram as explanações de Gerado Iglesias (UITA), Adriano Campolina (Actionaid Brasil), Nathalie Beghin (INESC) e Milton Rondó (MRE) sobre as oportunidades e desafios para o sindicalismo rural brasileiro e a crise mundial, o papel do Brasil na comunidade internacional e a cooperação. Na ocasião também foram analisadas as alternativas do movimento sindical frente à América Latina e outras regiões face aos desafios da segurança e soberania alimentar e nutricional e a cooperação sul-sul para que, a partir disso, sejam estabelecidos os critérios iniciais de orientação para as ações da CONTAG nos espaços internacionais de coordenação com a sociedade civil e a cooperação internacional. Em sua fala de abertura o presidente da CONTAG, Alberto Broch, registrou a importância do debate nesse momento conjuntural, diante dos avanços do capitalismo e face às grandes contradições no mundo da política e do cenário agronegócio versus agricultura familiar. “A CONTAG acredita em nosso Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário, no fortalecimento da agricultura familiar e no progresso sustentável, com soberania alimentar no Brasil e no mundo”, afirma. Gerard Iglesias fez uma análise crítica sobre a Conjuntura Internacional e os Desafios para a Soberania e Segurança Alimentar e a Cooperação Sul-Sul. Segundo seu olhar, o momento histórico atual é muito complexo para o movimento sindical “E achamos que vai piorar nos próximos anos”, fazendo uma referência ao golpe militar no Paraguai e ao assassinato de mais de 50 lideranças camponesas em Honduras. “Por trás de tudo isso não podemos duvidar da presença do agronegócio. Existe uma crise mundial que se apresenta e suas causas e consequências envolvem diretamente os sindicatos”. Para Iglesias essa não é uma crise igual às anteriores e dela os sindicatos não vão sair ilesos. “É uma crise múltipla, da abundância na produção”, referindo-se às crises ambiental, hídrica, econômica e social. “No afã por mais lucros, a tendência para os próximos anos é de exacerbação de um profundo capitalismo”. E lança um desafio: “Ou deixamos tudo como está, ou assumimos um modelo de desenvolvimento social verdadeiramente sustentável. Mas, estamos preparados para isto?”, questiona. O representante da Actionaid Brasil falou sobre a conjuntura internacional e os desafios do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) para a soberania e segurança alimentar e a cooperação sul-sul, na perspectiva da competição dos Estados, nações e empresas por capital, lucro e dominação e como estes interesses se articulam em torno de objetivos em comum. Para Adriano Campolina as conjunturas nacional e internacional estão diretamente associadas e ligadas ao agronegócio, numa articulação conjunta pelo poder. Diante do fenômeno do “Oasis” brasileiro, com seu crescimento, e a crise mundial Campolina registra a relevância da CONTAG e sua responsabilidade com os trabalhadores e trabalhadoras rurais. Ele denomina de “rearranjo” global profundo a luta por recursos naturais, alimento e terra. “A CONTAG é a maior na capacidade de influenciar nesse jogo de interesses e de mudar as estratégias do Estado na orientação da disputa capitalista”. Em sua apresentação, Adriano critica o baixíssimo investimento público na agricultura familiar, a liberalização agrícola, a desregulação e a concentração nas cadeias do agronegócio, levando o sistema alimentar liberal a fracassar em não conseguir alimentar o mundo. Representando o INESC, Nathalie Beghin discutiu sobre os desafios da interlocução sul-sul e o desenvolvimento rural, abordando cinco grandes temas: o Brasil e suas contradições, o Brasil e a cooperação internacional recebida, o Brasil e a cooperação internacional oferecida, os impactos do Brasil emergente na América do Sul e a proposta de agenda de atuação para as organizações e movimentos sociais brasileiros. Finalizando as apresentações, o ministro de Relações Exteriores, Milton Rondó salientou a importância da oficina. “Acho importante esse pensar, num diálogo orgânico, e nesse fazer junto, desde a formulação até o monitoramento das políticas públicas”. Segundo Rondó é preciso manter uma relação muito estreita com a sociedade civil e a inclusão desta nos fóruns internacionais a fim de manter-se a soberania nacional, anunciando para breve a formação de uma rede de pesquisa e discussão, um observatório em segurança alimentar. Cita um estudo do IPEA, que coloca o centro da inflação no Brasil na alta dos preços dos alimentos. “Esse dado se repete em todos os discursos internacionais. É preciso jogar luz nessa informação”. Face aos desafios apresentados nos painéis de discussão, a vice-presidente da CONTAG se posicionou dizendo que aposta na união das organizações sindicais, lembrando que a partir do Ano Internacional da Agricultura Familiar (2014): “Precisamos colocar o desenvolvimento do campo nessa agenda, porque pela primeira vez as organizações ligadas à agricultura familiar se juntam em nome da soberania e segurança alimentar”. Alessandra lembra que existe uma disputa pela terra no mundo e que é preciso uma intervenção global conjunta para enfrentar a organização do capitalismo e a ação de suas empresas desumanas, com suas péssimas condições de trabalho.“Nossos sindicatos e organizações precisam estar preparados para enfrentar essa realidade. O Congresso da CONTAG vai tratar de como fazer isso nos próximos 50 anos, através da qualificação de nossos quadros”, garante. Em seguida, no encerramento da oficina, foram reforçados os compromissos coletivos entre a CONTAG e as organizações filiadas e parceiras no sentido da continuidade do debate e fortalecimento de estratégias conjuntas.
FONTE: Imprensa Contag - Maria do Carmo de Andrade Lima