Um dos donos dos sítios visitados pela fiscalização e pela Folha na última quarta-feira afirma que os trabalhadores preferem receber por comissão do que ter registro em carteira. "Essa é uma forma de eles não terem prejuízo, nem eu. Quem trabalha por comissão nem olho, pois quem faz corpo mole não ganha", diz Alfeu Ribeiro, dono do sítio Auribe. Se o trabalhador ficar doente ou não puder trabalhar por causa das chuvas, "eu pago e, se se machucar, também pago".
Ao ser questionado pelos procuradores e fiscais sobre o fato de pagar para parte dos trabalhadores menos do que o salário mínimo paulista (R$ 410), disse: "Não fui ver o piso da categoria".
Ribeiro afirma que "está difícil" manter os empregados e arcar com os custos do sítio, com 200 mil pés de banana, porque o preço da fruta caiu. Diz que vende a caixa (de 22 quilos) a R$ 4 hoje no mercado, preço muito baixo para manter as despesas de seus sítios -além do Auribe, ele é proprietário de dois sítios na mesma região.
Sobre a pulverização feita com avião sobre a plantação e o trabalhador, disse: "Se fizesse mal, já tinha morrido todo mundo. Todos os sítios fazem isso, senão a bananeira seca e, se secar, não produz. Agrônomos acompanham os produtos usados na pulverização, que faço quatro vezes por ano".
" Gustavo de Souza Ferreira, engenheiro agrônomo e assistente técnico do gabinete da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, informa que, em setembro (período de entressafra da fruta), o preço médio da caixa da banana nanica era R$ 11,10. Em janeiro, no pico da safra da fruta, o preço médio era R$ 7,20.
"R$ 11,10 por caixa é quanto estava sendo pago aos produtores maiores. Só que os pequenos produtores não têm estrutura. Por essa razão, os atravessadores entram no mercado deles e pagam a metade do preço da caixa, que, algumas vezes, passa a ter até 32 quilos."
Paulo Candido da Silva, dono do sítio Taquaruçu, diz que não houve tempo hábil para avisar os trabalhadores da pulverização da última quarta-feira. "A empresa não nos avisou a tempo. Estava a dez quilômetros do sítio e não cheguei a tempo de retirar os dois trabalhadores."
Silva diz que está regularizando a contratação dos trabalhadores do sítio e de uma fábrica de blocos que possui na região. "Abri minha firma há um ano e aos poucos estou me regularizando. A situação dos bananeiros está muito difícil, os encargos, os produtos, tudo encarece."
Joaquim Fernandes Branco, presidente do sindicato dos produtores rurais de Miracatu, afirma que a entidade está orientando os empregadores a retirar os trabalhadores durante a pulverização, ajudando no treinamento dos que aplicam agrotóxicos na plantação e pedindo que cumpram as normas trabalhistas. "Temos que solucionar o problema. A ordem é para sair da propriedade. Quando ocorre a pulverização, o funcionário tem de se afastar." (FF e CR) FONTE: Folha de São Paulo ? SP