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EMBRAPA CORRE PARA TORNAR-SE RE
Embrapa corre para tornar-se referência em biocombustíveis
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05 de Junho de 2008

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Criado há dois anos, o centro da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) dedicado ao estudo de novas fontes renováveis de energia ainda não tem sede própria, conta com uma equipe reduzida e briga para garantir seu quinhão nos disputados recursos orçamentários da estatal.

Tantas limitações, porém, não impedem a Embrapa Agroenergia, caçula da rede de 38 unidades da empresa, de consolidar suas apostas estratégicas e científicas com o objetivo de dominar a tecnologia de novas matérias-primas dos biocombustíveis do futuro no Brasil.

Em meio ao intenso jogo político internacional em torno dos biocombustíveis, a Embrapa pretende, com suas pesquisas, elevar o status de referência na agropecuária para transformar-se em modelo industrial. Para isso, investe em novos materiais de primeira geração para a fabricação de um etanol mais barato e produtivo.

A estatal também reforça a aposta em um biocombustível brasileiro de segunda geração, feito a partir de celulose e "construído" com conhecimento novo e parcerias estratégicas. Assim como faz com a Embrapa Internacional, cuja atuação espalha-se pelo mundo, o plano da empresa é acelerar as pesquisas para alavancar no exterior os negócios de indústrias, equipamentos, processos e serviços genuinamente brasileiros.

Na área de desenvolvimento de novas matérias-primas, o principal trunfo da Embrapa Agroenergia é o domínio tecnológico do sorgo sacarino. Gramínea de alta capacidade de captação de energia, comparável à cana-de-açúcar, este tipo de sorgo adapta-se em várias regiões, tolera seca e tem alto potencial para ser cultivado em áreas marginais da cana.

"O sorgo produz 85 toneladas por hectare [produtividade similar à da cana], mas leva apenas 140 dias para ser colhido, enquanto a cana demora entre 12 e 18 meses para o primeiro corte", diz o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, o agrônomo mineiro Frederico Durães.

Mais do que uma matéria-prima perfeita para o etanol, o sorgo também pode ser usado como ração para o gado. Fácil de armazenar, produz entre duas e três toneladas de massa seca por hectare. O novo produto encurta o caminho para etanol de celulose, algo que está no topo da agenda dos grandes consumidores, como Estados Unidos e Europa.

"O sorgo produz 70% da sacarose da cana e metade da lignina [substância que dá consistência à madeira], o que exige menos energia para quebrar as cadeias de carbono e transformá-lo em etanol", explica Durães. Quer dizer, é mais fácil extrair etanol de celulose a partir deste material.

A Embrapa já tem quatro variedades brasileiras com avançado domínio tecnológico. "É só difundir os materiais", diz o pesquisador. O capim-elefante, muito comum em várias partes no país, também pode ser usado para produção de massa seca no regime de co-geração de energia, diz Durães.

Nos planos da Embrapa, estão as pesquisas para melhorar a cana-de-açúcar por meio da fixação biológica de nitrogênio. Isso eliminaria a demanda de 70% de derivados de petróleo e significaria mais lucros, porque há uma redução de 30% nos custos de produção já no primeiro ano.

"Não vamos reinventar a roda, mas arredondar o que está quadrado", afirma o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento, o engenheiro de alimentos Esdras Sundfeld. Para superar o desafio, a estatal trabalha em uma rede de 42 centros e 200 cientistas da casa e de outras unidades de pesquisa.

Para os biocombustíveis de segunda geração, a estratégia é usar as chamadas "variabilidades genéticas" exclusivas do Brasil. Ou seja, buscar o potencial natural com métodos já dominados.

Até 2011, a Embrapa terá um tipo de cana com sacarose nas "ponteiras" da planta, o que significa acrescentar energia em mais um terço da gramínea. "Será uma revolução feita à base de genética fisiológica e bioquímica via melhoramento convencional não-transgênico", aposta Durães.

É uma tecnologia dominada pela Embrapa há tempos, mas guardada a sete chaves nos laboratórios da empresa. "Precisamos ter cuidado para não trocar recurso natural bruto, a nossa biodiversidade, por processos ou ferramentas tecnológicas importadas que podemos dominar", afirma Esdras Sundfeld.

Mas ainda falta a densidade científica e a catalisação das competências espalhadas nas diversas unidades da Embrapa. "Trabalhamos agora nisso".

A estratégia da Embrapa também inclui os pólos produtores de etanol de cana. Frederico Durães aposta na região de Araçatuba, no interior de São Paulo. As áreas de pastagem, hoje com baixa capacidade de suporte, devem avançar.

O pesquisador estima que a lotação dos pastos saltará das atuais seis para até 14 cabeças por hectare em cinco anos. Conforme ele, a região de Ribeirão Preto, principal pólo sucroalcooleiro paulista, brasileiro e mundial terá que mudar de perfil em razão da mecanização expressiva e a urgência da certificação ecológica da produção.

Também há espaço para ganhos de logística no auto-consumo. No Rio Grande do Sul, onde há 25 mil hectares plantados, algumas regiões podem produzir até 130 toneladas por hectare, acima da média nacional, que varia de 80 a 85. "Hoje, eles importam tudo de São Paulo, mas podem se abastecer e exportar ao Uruguai e à Argentina", acredita Durães.

FONTE: Valor Econômico - 05/06/2008



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