O texto detalha o que deve acontecer em cada região do país. O pior cenário traçado pelos especialistas mostra que grande parte da Floresta Amazônica desaparecerá até 2080, transformando-se numa imensa savana (área de vegetação rasteira e empobrecida, comum na África Oriental). No sertão do Nordeste, a previsão é de redução dos recursos hídricos: menos água, mais sofrimento para o sertanejo e menor possibilidade de os assentamentos rurais prosperarem. No litoral, ao contrário, a preocupação é com a elevação do nível do oceano. No Recife, nos últimos 10 anos, o mar já avançou 25 metros, reduzindo a faixa de areia das praias e pondo em risco construções à beira-mar. No Centro-Oeste, a biodiversidade do pantanal está ameaçada pelas mudanças no regime de chuvas - com forte impacto na produção de grãos do cinturão verde nacional.
Ainda de acordo com o relatório do Ipea, os moradores da região mais rica do país, o Sudeste, vão sofrer com os picos de temperatura, que devem se acentuar nas próximas décadas: serão invernos mais rigorosos e verões escaldantes. Também há previsão de aumento de chuvas na área, com efeitos na agricultura e na freqüência e intensidade de inundações. E no Sul, a exemplo do que ocorreu este ano, as cheias devem tornar-se mais constantes.
Uma verdade inconveniente, mas que precisa ser repetida, é que o principal responsável pela reviravolta climática é o homem. Indústrias, poluição, queimadas e desmatamento estão na linha de frente dos fatores do aquecimento global, pois liberam os gases responsáveis pelo efeito estufa e o conseqüente aumento da temperatura da Terra. O consolo é que o homem também faz parte da solução do problema que criou, tão logo se conscientize dos danos que impinge ao planeta e busque alternativas mais ecológicas para seu desenvolvimento.
É nesse contexto que o Brasil deve assumir uma posição de liderança mundial na luta pelo meio ambiente. Antes, no entanto, precisa equilibrar a complexa relação entre o agronegócio e a preservação ambiental, cuja chave se encontra no desenvolvimento sustentável - tão citado pelos ecologistas e tão pouco praticado pelos governos. Se no plano interno o Brasil conseguir mudar o cenário dramático (porém verdadeiro) antecipado pelos relatórios e mantiver a política de incentivo aos biocombustíveis (sem que isso cause impacto na produção de alimentos), o país terá um enorme handicap na hora de cobrar das nações mais ricas - historicamente as maiores responsáveis pela poluição global, mas também as mais reticentes quanto à aceitação de metas de redução de gases poluentes - o uso racional dos recursos naturais.
O esforço apresenta-se grandioso, no entanto a sociedade espera que os novos líderes indicados para assumirem o Ministério do Meio Ambiente estejam à altura do desafio. FONTE: Jornal do Brasil - 19/05/2008