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CURITIBA, BRASÍLIA e BELO HORIZONTE - Um dia depois de o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, ter garantido que não há risco de epidemia de febre amarela no país, resultados de exames começam a descartar casos suspeitos da doença. Um laudo preliminar do Laboratório de Saúde Pública (Lacen) informa que o trabalhador rural João Batista Gonçalves, morto no dia 5 em Goiânia, não estava com febre amarela. O documento não diz a causa da morte do agricultor. ( Saiba como evitar a doença )
"O resultado conclusivo será emitido posteriormente pelo laboratório de Referência Nacional, conforme determinação do Ministério da Saúde. João Batista Gonçalves tinha 31 anos, era de Aparecida de Goiânia. Ele estava havia dois meses trabalhando em uma zona de desmatamento no município de Uruaçu", diz nota da Secretaria de Saúde de Goiás.
Em Minas, a Secretaria Estadual de Saúde descartou nesta quinta a hipótese de que o pecuarista internado desde o dia 5 de janeiro no Hospital Felício Rocho esteja com febre amarela. O homem, de 48 anos, é natural de Acrelândia e passava férias em Belo Horizonte. Ele vai passar por novos exames para verificar a possibilidade de outras doenças. ( Leitores tiram dúvidas sobre a doença )
Mais cedo, a coordenadora de epidemiologia do estado, Maria Eugênia Didier, já descartava a hipótese de febre amarela uma vez que a febre cedeu de quarta para esta quinta-feira. Ela disse que os sintomas do paciente poderiam indicar sinal de dengue, leptospirose ou hepatite. Ela não acredita que o pecuarista esteja com febre amarela uma vez que a febre cedeu de quarta para quinta.
- Acho pouco provável que seja um caso de febre amarela.
Laudo confirma que Abubakir foi vítima de febre amarela
O governo do Distrito Federal e o Ministério da Saúde confirmaram no fim da tarde desta quinta-feira que o servidor Graco Carvalho Abubakir morreu mesmo vítima de febre amarela silvestre. Laudo do Laboratório Central da Secretaria de Saúde do DF apontou como positivo o exame sorológico de Graco, que morreu na terça em um hospital da capital. Até agora, trata-se do único caso confirmado da doença.
Quanto ao caso do empresário morto em Maringá (PR), a secretaria de Saúde do estado informou que há suspeita de que a morte tenha sido em decorrência de leptospirose, dengue hemorrágica, hantavirose e, por último, febre amarela.
O secretário de Saúde do Distrito Federal, Geraldo Maciel, informou que não foram detectados focos de Aedes aegypti, mosquito transmissor da doença, na área da residência de Graco Carvalho Abubakir. Para o secretário, tudo indica que ele não foi picado em Brasília, hipótese levantada pela família de Graco.
- É uma sinalização clara de que na área urbana não se registra a presença da febre amarela. Não quero, em respeito cristão à família, polemizar, mas no dia 2 ele esteve no hospital e teria dito aos médicos que saiu de Brasília bem - afirmou Maciel.
Laudo deve indicar que macaco morto não tinha febre amarela
Maciel também afirmou nesta quinta que o resultado da indicação sorológica do macaco encontrado morto no Parque Nacional de Brasília em dezembro sai nas próximas 24 horas e que tudo indica que o animal não estava infectado com febre amarela.
Drauzio Varella diz que tinha certeza que ia morrer
O médico Drauzio Varella afirmou em entrevista ao jornal 'O Globo' desta sexta-feira que achou que ia morrer após contrair a febre amarela em 2004, numa visita à Amazônia. Ele teve febre de 40 graus, dores fortíssimas e insuficiência hepática:
- Eu tinha a certeza que ia morrer. Porque não era só o mal-estar, mas tecnicamente os resultados dos exames eram assustadores. Tinha dificuldade de levantar um copo de água. A doença acaba com suas forças - disse o médico
Minas mantém alerta com possível avanço da doença
O governo de Minas continua preocupado com o possível avanço da doença, uma vez que o estado faz fronteira com Goiás, onde 50 cidades estão em alerta. Na quarta-feira, o governador Aécio Neves e o secretário de Saúde, Marcus Pestana, se reuniram para discutir medidas contra a doença. Em Minas, foram encontrados 19 macacos mortos em Cabeceira Grande e Buritis, na região noroeste, em Luislândia, na região norte, e em Uberlândia, no Triângulo. Amostras de alguns deles estão sendo coletadas para analisar a causa das mortes.
Por precaução, 300 doses de vacinas foram liberadas para 13 cidades mineiras: Arinos, Bonfinópolis de Minas, Brasilândia de Minas, Buritis, Cabeceira Grande, Chapada Gaúcha, Dom Bosco, Formoso, Natalândia, Paracatu, Riachinho, Unaí e Uruana de Minas.
- Estamos fazendo um trabalho preventivo de mobilização circunscrito a regiões onde há início de suspeita a partir da morte de macacos no Noroeste, no Norte e em Uberlândia e que estão sob investigação - disse o secretário.
Três mortes com suspeita da doença
Descartado o caso do agricultor de Goiânia, agora são duas as pessoas que morreram com suspeitas da doença: Graco Carvalho Abubakir e o empresário Almir Rodrigues da Cunha, de 46 anos, em Maringá, no Paraná.
Almir é o primeiro caso suspeito no Paraná, que emitiu nesta quinta um alerta de vacinação para quem viajar para áreas de risco. Segundo a diretora de assistência da secretaria de Saúde de Maringá, Rosemeire Munarin, o sangue do empresário foi coletado e encaminhado para o Laboratório Central do Estado (Lacen), em Curitiba. O resultado deve sair no máximo em 20 dias. Se for positivo, ela adiantou que novos casos podem surgir na região.
- Somente após a sorologia será possível afirmar se é um caso de febre amarela ou não - afirmou.
Rosemeire contou que o empresário viajou para a cidade de Caldas Novas, no estado de Goiás, no dia 22 de dezembro do ano passado para passar as festas de fim de ano. Cunha retornou à Maringá no dia 1º de janeiro e cinco dias depois foi internado às pressas na UTI do Hospital Santa Rita, em Maringá. O quadro apresentado pelo empresário era febre alta. A causa da morte, explicou a diretora, é síndrome febril.
- As principais doenças que causam essa síndrome são hantavirose, leptospirose e a febre amarela. Mas com os casos recentes da doença (febre amarela), inclusive em Goiás, a suspeita de febre amarela é muito grande - informou.
O secretário municipal da Saúde, Antônio Carlos Nardi, disse que não há motivos para a população de Maringá se preocupar. Ele contou que a vacina contra a doença já consta no calendário regular da secretaria, mas que no próximo sábado a vacinação será intensificada.
- Se for confirmada a suspeita da doença, é preciso esclarecer que ela foi transmitida em Goiás. A Secretaria Central de Saúde vai abrir de 8h até as 17h para vacinar as pessoas, principalmente turistas que pretendem viajar para a região Centro-Oeste - disse Nardi.
Quase um terço dos moradores do DF já se vacinou
O secretário de Saúde do Distrito Federal, Geraldo Maciel, afirmou nesta quinta-feira que já passa de 600 mil o número de moradores de Brasília vacinados contra a febre amarela desde 29 de dezembro. O valor representa quase um terço da população do DF (Censo de 2000), apesar de a Vigilância Sanitária ter informado que 90% dos habitantes da unidade federativa já eram imunizados contra a doença.
Os estados de Tocantins, onde na quarta-feira surgiu mais uma suspeita da doença, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Mato Grosso, que tem um caso suspeito, estão convocando a população para ser vacinada contra a febre amarela. A medida já havia sido adotada em Goiás, Minas e no Distrito Federal. Esses estados estão entre os 18 que ficam nas regiões consideradas endêmicas e são focos históricos do vírus que causa a doença. A vacina tem efeito por dez anos e a imunização é garantida dez dias após a aplicação da injeção.
Em São Paulo, o medo da febre amarela lotou o posto de vacinação em Cumbica . Nos últimos dias, o movimento em todos os postos de saúde paulistas aumento.
No Rio, em menos de 24 horas acabaram as 500 doses de vacina disponíveis no PAM Oswaldo Cruz, no Centro. Dos 26 postos do Rio onde normalmente é feita a vacinação, apenas o da Henrique Valadares tinha a vacina. Nesta quinta-feira, mais de cem pessoas foram novamente ao posto, o que acabou provocando um tumulto . Foram distribuídas apenas 120 senhas, insuficientes para atender a todos. Os atendentes dos postos da Zona Sul informaram que não há vacinas nem previsão de reposição do estoque.
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