José Maria Tomazela, Nova Andradina
"Isso não está acontecendo", reagiu o superintendente regional substituto do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Valdir Perius, ao ser questionado sobre a existência de carvoarias no interior da reserva da Fazenda Teijin. "Tinha alguns fornos lá, mas foram todos fechados numa ação que fizemos com a Polícia Ambiental", garantiu.
Informado de que os fornos tinham sido fotografados na terça-feira e havia crianças no local, respondeu: "São carvoeiros da cidade que exploram alguns assentados." Ele disse que existem "apenas 15 lotes" abertos irregularmente na reserva e os ocupantes serão retirados. "Isso já foi resolvido com o MST. A reserva precisa ser preservada e quem entrou tem de sair."
Para o superintendente, quem agride o meio ambiente é o fazendeiro, não o sem-terra. "Aquele é um povo pobre que foi abandonado no passado." Segundo Perius, o assentamento na Teijin é um dos mais importantes do Brasil e beneficia mais de mil famílias, causando ciúme. "Para decepção de uma parte da classe política de Nova Andradina que defende o latifúndio dos japoneses, o assentamento está consolidado."
São essas pessoas, segundo ele, que fazem denúncias, como a da invasão da reserva. "Para nós, o importante é resolver o problema do povo", disse.
TRANSFERÊNCIA
Perius negou que os assentados tenham sido abandonados pelo Incra, mas ressalvou que as famílias que estão na reserva serão transferidas. Segundo ele, o Incra liberou R$ 10 milhões para moradia, "dinheiro que está na conta dos assentados". Frisou que estradas estão sendo abertas em convênio com o Estado. "Reforma agrária se faz com planejamento e orçamento."
O coordenar do Movimento dos Sem-Terra (MST) em Mato Grosso do Sul, José Oliveira, disse que a área de mata foi incluída no assentamento pelo Incra. "Havia mais reserva do que os 20% e o Incra parcelou." Foram abertas estradas e os lotes receberam benfeitorias, como rede de água, segundo ele. "As famílias foram colocadas lá dentro e, sem área para plantar, começaram a desmatar." Os fornos foram construídos para aproveitar essa madeira. "Houve queima, mas eles só queimaram porque foram colocados dentro da mata."
Ele desconhecia o trabalho de crianças. Segundo Oliveira, 16 famílias que estão na reserva são ligadas ao MST e as demais à Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri). "Se houve irregularidade, não foi por nossa culpa. O Incra precisa conseguir outra área para essas famílias."
O diretor do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Bataiporã, Joel Silveira, também dirigente da Fetagri, disse que alguns assentados produzem carvão para subsistência, utilizando galhos e árvores retirados durante a abertura das estradas no assentamento. Ele disse que os lotes na mata foram demarcados pela empresa contratada pelo Incra.
FRASES
Valdir Perius
Superintendente regional substituto do Incra
"São carvoeiros da cidade que exploram alguns assentados"
José Oliveira
Coordenar do MST em Mato Grosso do Sul "As famílias foram colocadas lá dentro e, sem área para plantar, começaram a desmatar. O Incra precisa conseguir outra área" FONTE: Estado de São Paulo ? SP