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DESMATAMENTO ACELERADO
Desmatamento acelerado
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31 de Março de 2008

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Renata Mariz

A divulgação dos dados sobre desmatamento na floresta amazônica, que atingiu 7 mil quilômetros no segundo semestre do ano passado, recorde desde que o monitoramento anual passou a ser feito, deixou o governo e os ambientalistas em polvorosa. O alarde, entretanto, poderia ser pior, caso os outros cinco biomas do país recebessem a mesma atenção. Um diagnóstico encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) aponta uma derrubada total de 2,5 milhões de quilômetros quadrados ? o equivalente a 30% do território nacional. "Esse percentual pode parecer pouco, mas em termos de área é algo muito grave", diz Bráulio Dias, diretor de Conservação da Biodiversidade do MMA.

O estudo inédito, intitulado "Mapas de Cobertura Vegetal dos Biomas Brasileiros", aponta a Mata Atlântica como a vegetação mais devastada do país, com 70,95% de área derrubada. No outro extremo está a menina-dos-olhos do governo, a Amazônia, seguida pelo Pantanal. Ambos biomas perderam até hoje menos que 15% de sua extensão. A Caatinga apresenta um processo avançado de deterioração, em torno de 37%. Na marca dos 40% de vegetação derrubada, o Cerrado assusta, porque sua degradação começou há apenas 40 anos. A região dos Pampas é outra que também já perdeu muito, cerca de 60% de sua área.

Dias reconhece que o levantamento encomendado pelo MMA é pouco conhecido e menos ainda utilizado para a elaboração de políticas públicas. "Todo mundo só fala na Amazônia, por conta da divulgação dos dados, sempre com ampla cobertura da imprensa, e os outros biomas acabam sendo negligenciados", diz o diretor do ministério. Ele cita como preocupante a situação do Cerrado, onde cada 10 metros quadrados pode conter até 400 espécies de plantas. "Temos 40% de degradação provocada pelo homem da década de 1960 para cá. A taxa é de 1% ao ano, enquanto a Amazônia tem índice de 0,5%", explica Dias.

Ritmo estagnado

A boa notícia é que o ritmo de degradação do Cerrado, presente no Distrito Federal, estagnou. "Estabilizamos com 60% do bioma natural, devido a um controle ambiental mais rígido e novas tecnologias para aumentar a produtividade agropecuária, mais freqüente na região, sem necessidade de expandir a área utilizada", afirma Edson Sano, geólogo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e coordenador do levantamento na área do Cerrado. A pecuária extensiva também é a maior pressão sofrida nos Pampas.

Na Caatinga, o problema mais grave é a extração de lenha para residências, pequenas indústrias e a produção carvoeira. No Pantanal, o bioma menos devastado e também o menor no país, a ocupação humana se dá de uma forma mais sustentável. O contrário ocorreu na Mata Atlântica, onde só restam 26% de vegetação nativa. "E isso sobrou porque está em regiões íngremes, de difícil acesso, ou porque virou área de conservação protegida", diz Dias. "O processo de urbanização na Mata Atlântica, que é uma área costeira, foi muito devastador para o meio ambiente."

Márcia Hirota, diretora de gestão do conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, destaca que o bioma está presente em 3.400 municípios. "Por isso dependemos de políticas para preservação não apenas federais, mas estaduais e municipais. Na verdade, precisamos do engajamento de todas as pessoas, até porque muita gente reside na área da Mata Atlântica", diz Márcia. O bioma é o único no Brasil que ganhou uma lei específica, em 2006, devido ao grau de destruição, disciplinando a exploração da floresta. "Ajuda ter uma legislação, mas o primordial é mudar a cultura da sociedade", afirma a diretora da organização não-governamental.

Estatísticas do governo são mais otimistas

As estatísticas de institutos ambientais divergem sobre os cálculos de desmatamento apresentados pelo governo no estudo "Mapas de Cobertura Vegetal dos Biomas Brasileiros". Os últimos levantamentos da Fundação SOS Mata Atlântica, por exemplo, apontam para uma devastação de 93% do bioma, enquanto o Ministério do Meio Ambiente (MMA) estabelece o índice em 71%. A diferença de metodologias utilizadas explica as disparidades nos estudos e um eventual otimismo nos índices oficiais.

"Se um ecossistema está sendo usado pelo homem, mas preserva suas características, consideramos vegetação nativa. É o caso das pastagens naturais. Outras pesquisas costumam ser mais puristas", afirma Bráulio Dias, diretor de Conservação da Biodiversidade do MMA. Ele também chama a atenção para o conceito de "mata natural". "Não estamos dizendo que temos 60% de remanescentes de Cerrado bem conservados. A área pode estar parcialmente degradada, mas ainda é um ecossistema possível de ser recuperado", diz.

Márcia Hirota, diretora de gestão do conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, ressalta que não há critério certo nem errado. "A metodologia depende do objetivo do trabalho. Se formos considerar a proteção à biodiversidade, usamos o índice de 7% de área preservada em relação à riqueza original da Mata Atlântica. Mas se a idéia é mapear áreas com vegetação natural, o critério pode ser mais abrangente", destaca. Para Dias, a análise flexível auxiliará na preservação. "A idéia não é pregar que degradamos pouco e ainda há muito para explorar. E sim a de que temos áreas que devem ser recuperadas", diz. (RM) FONTE: Correio Braziliense ? DF



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