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DEPOIS DE DESMAIO, DOM CAPPIO É
Depois de desmaio, dom Cappio é hospitalizado
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19 de Dezembro de 2007

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Evandro Éboli, Bernardo Mello Franco e Gerson Camarotti - O Globo,O Globo Online; Agência Brasil; CBNReuters

BRASÍLIA, RIO E SALVADOR - O bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, foi internado na noite desta quarta-feira em um hospital de Petrolina (PE), por determinação médica, por estar semi-consciente. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), divulgou nota em que afirma que a autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para a continuidade das obras de transposição do rio São Francisco abalou o bispo de tal forma que o fez desmaiar no início da tarde quando redigia texto que seria enviado como pronunciamento sobre a decisão do Supremo. A nota da Cimi diz que logo depois os batimentos cardíacos e a pressão do bispo foram estabilizados. A permanência do jejum será decidida pelo frei logo que ele estabeleça a plena consciência.

"Hoje, às 14 horas, depois de ter recebido a notícia da decisão do Supremo Tribunal Federal, Dom Luiz Cappio perdeu a consciência (desmaiou), mas com todos os sinais vitais presentes. Sua pressão oscilava entre 90/60 e 110/70 mmHg. Depois dormiu e acordou às 16:30 horas. Ele está semi-consciente e com estado geral comprometido. Ele será internado, por determinação minha para evitar possíveis danos permanentes", diz boletim assinado pelo médico Klaus Finkam.

Dom Luiz Cappio, de 61 anos, entrou nesta quarta-feira no 23º dia de jejum. Ele estava mais fraco e falando pouco, e já não fazia mais caminhadas matinais desde terça-feira. Na segunda-feira, o médico que acompanha o religioso, doutor Klaus Sinkan, suspendeu o soro. Ele passou a ingerir apenas água, e até segunda-feira já tinha perdido oito quilos.

O chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, telefonou por volta das 17h para o secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa, para informar que o governo não aceita a proposta de suspender as obras de transposição do rio São Francisco por 60 dias. Por essa razão, Carvalho nem foi à CNBB, onde discutiria a proposta com os religiosos.

Segundo a assessoria da CNBB, a informação de que o governo vai manter a obra ainda não foi comunicada a dom Luiz Cappio por causa de sua internação.

Mais cedo, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, disse que o governo estava aberto a sugestões para melhorar o projeto, mas afirmou que o Estado brasileiro não pode se curvar à posição de uma pessoa só, numa referência ao bispo. Dom Dimas reuniu-se na noite de terça-feira por mais de duas horas com Gilberto Carvalho e Roberto Malvezzi, representante do bispo nas negociações e membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Geddel vai pedir a Lula ofensiva publicitária pró-transposição

Geddel disse que tentará convencer o presidente Lula a investir numa ofensiva publicitária para conquistar o apoio da opinião pública ao projeto. Ele quer que o governo responda aos comerciais dos últimos dias em que a atriz Letícia Sabatella, militante da organização não-governamental Humanos Direitos, defende a suspensão das obras.

- Precisamos remover os mitos que envolvem o debate da transposição - justificou.

No fim da tarde, Geddel informou que o primeiro lote da licitação para as obras de transposição será anunciado nesta quinta-feira mesmo.

- Vou anunciar o vencedor do primeiro lote da licitação que vai trazer a empresa privada para as obras - disse o ministro nesta quarta, ao sair de almoço de confraternização de seu partido, o PMDB.

Geddel avaliou que a decisão do STF, que permite a continuação do empreendimento, não significa "vitória de ninguém sobre ninguém".

Geddel concluiu que, com a decisão do STF, haverá tranqüilidade necessária para dar agilidade às obras.

- Ficou demonstrado no STF que esse projeto é ambientalmente correto, economicamente sustentável e socialmente justo - disse.

Para Vaticano, gesto de Cappio atingia soberania nacional

A desobediência de dom Cappio ao não interromper a greve de fome já tinha levado o caso à cúpula do Vaticano. O assunto era tratado pessoalmente pelo secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Tarcísio Bertone, segundo na hierarquia do Vaticano. Segundo bispos brasileiros envolvidos na negociação com o bispo de Barra, a Santa Sé passou a tratar o assunto como um problema de Estado envolvendo governo brasileiro e Vaticano.

Esta semana, a Santa Sé decidiu endurecer o tratamento dado a dom Cappio depois que ele se negou a atender ultimato feito pelo cardeal italiano dom Giovanni Battista Ré, prefeito da Congregação para os Bispos. Segundo influente prelado brasileiro que acompanhava o caso, essa carta foi um recado claro de que a Santa Sé poderia nomear rapidamente um "administrador apostólico" para a diocese de Barra. Ou seja, tirar o poder de dom Cappio como bispo.

Na CNBB, chegou a informação repassada pela Nunciatura Apostólica em Brasília - espécie de embaixada da Santa Sé - de que até já se cogitava uma carta pessoal do papa Bento XVI determinando o fim da greve de Cappio. A avaliação é de que o bispo de Barra extrapolou todos os limites e criou uma crise diplomática para o Vaticano. A Cúria Romana passou a considerar o gesto de Cappio uma posição política que atingia diretamente a soberania do governo brasileiro para tomar suas decisões administrativas. Isso ficou claro no relato feito pelo núncio apostólico dom Lorenzo Baldisseri a autoridades brasileiras.

STF acolhe pedido do advogado-geral da União

Por seis votos a três, o STF autorizou nesta quarta a continuidade das obras de transposição. A maioria dos ministros concordou com o relator, ministro Carlos Alberto Direito, e entendeu que não havia comprovação de danos irreversíveis ao meio ambiente nessa fase do projeto. A corte rejeitou um agravo instrumental de entidades ambientalistas que pediam a paralisação temporária das obras. (Leia detalhes no Blog do Noblat)

A ação contesta decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, da semana passada, que suspendia as obras do São Francisco sob a alegação de que o governo não teria cumprido todos os requisitos legais para executá-las.

O advogado-geral da União, José Antonio Toffoli, invocou a competência do STF para julgar todas as ações relativas ao projeto de transposição do São Francisco. Mais tarde, Toffoli disse que as obras estão de acordo com a lei:

- Ficou claro agora que todo o processo de licença ambiental e das obras para a transposição e revitalização do Rio São Francisco estão de acordo com a lei, com os princípios constitucionais e ambientais. Não há mais nenhuma decisão judicial hoje que impeça a continuidade das obras e todas as eventuais contestações deverão ser julgadas pelo STF - disse.

Para o advogado-geral da União, não se trata apenas de uma obra de transposição já que está sendo feito um trabalho para melhorar as condições do rio por meio de um programa de revitalização.

- Toda obra de revitalização está sendo feita. As licenças para instalação das obras foram dadas com uma série de condicionantes que exige uma série de programas. Todos eles relativos à revitalização do rio.

Ao deixar a Corte, o ministro Ayres Britto, que disse só ter baseado o voto contra as obras em motivos técnicos, fez elogios a dom Cappio:

- Ele é um homem comprometido com valores e acredita piamente que o rio não sobreviverá a essa sangria. Por isso, chama a atenção do poder público da maneira que julga correta. Não tenho nada a criticar, absolutamente - disse.

A atriz Letícia Sabatella acompanha no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) o julgamento que autorizou a continuidade das obras de transposição das águas do Rio São Francisco - Ailton de Freitas/O Globo

Após a decisão da Justiça, cerca de 150 manifestantes entre integrantes de movimentos sociais, artistas e religiosos, fizeram um protesto contra a decisão da corte. O ator Osmar Prado acusou o Supremo de decidir com insensibilidade. Ele liderou junto com a atriz Letícia Sabatella, que não conteve as lágrimas quando o ministro Gilmar Mendes deu o voto que determinou a vitória do governo, uma oração pela vida de dom Cappio.

- Foi uma decisão esperada, técnica e fria. O Supremo seguiu a sua tendência de conservadorismo - disse Prado.

Em seguida, o grupo foi recebido pelo presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN). Foi estendida uma faixa de apoio a dom Cappio no Salão Verde, área de circulação intensa de deputados e jornalistas.

Manifestação na Praça dos Três Poderes

Solidários à greve de fome do bispo dom Luiz Cappio, a quem consideram um mártir, representantes de movimentos sociais, entre eles Letícia Sabatella e 300 ribeirinhos, pescadores e quilombolas da Bacia do São Francisco foram à Praça dos Três Poderes na terça-feira protestar contra a transposição do rio. Em entrevista ao Blog do Noblat, Leticia Sabatella diz não considerar um exagero o jejum do bispo. FONTE: Globo Online ? RJ



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