O avanço da próxima safra brasileira de grãos, que atingiu neste ano 142,1 milhões de toneladas, está ameaçado pela forte pressão de custos do agronegócio, apesar da perspectiva de cotações firmes para commodities agrícolas nos próximos meses no mercado internacional por causa da escassez de alimentos.
Só o preço do fertilizante em reais subiu 73% em 12 meses até abril e mais de 40% neste ano, segundo o Índice de Preços por Atacado (IPA) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Acompanhando a escalada dos grãos, as sementes também estão mais caras em relação à última safra. No caso do trigo, o aumento foi de 75%; no da soja e do arroz, em torno de 50% e, no do milho, de 43%, de acordo com a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem).
Também o preço do herbicida mais usado nas lavouras de soja, o glifosato, aumentou 70% em relação à safra passada. Para completar o quadro de alta de custos, nas últimas semanas o óleo diesel, que movimenta as máquinas no campo, foi reajustado em 15% na refinaria.
Diante dessas pressões, os agricultores de grãos que já começaram a comprar insumos para a próxima safra sentiram esses aumentos no bolso e redobraram a cautela em seus planos.
"Vamos ter um breque na expansão. Havia a expectativa de incorporar à produção de soja áreas degradadas de pastagens. Agora nem se sonha abrir uma área com um custo desse, especialmente hoje que a cotação da arroba do boi gordo está em níveis recordes", afirma o presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Glauber Silveira da Silva. A soja é o principal produto da safra nacional de grãos e respondeu por 42% dos volumes colhidos.
Líder de seis mil produtores de grãos em Mato Grosso, principal Estado produtor de soja, que sozinho colheu 17,5 milhões de toneladas do grão na última safra, ele diz que a entidade vai orientar os agricultores a escolher melhor as áreas a serem cultivadas e adubar menos. Na última safra, foram plantados 5,6 milhões de hectares com soja no Estado. "Na próxima safra não vamos chegar a 6 milhões de hectares. Vamos repetir a área", prevê.
SUSTO
O susto dos produtores de soja de Mato Grosso tem motivos. O custo médio de fertilizante por hectare em Sorriso, município do Estado que mais produz soja no mundo, é de R$ 563, o maior em nove anos. O gasto com fertilizante representa 60,8% do custo da próxima safra. Na última safra havia sido de 57%.
O quadro é semelhante no Paraná, outro importante produtor de grãos. "Vamos usar apenas o adubo necessário", diz Luiz Lourenço, presidente da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, uma das gigantes do setor no norte do Paraná.
Os gastos com sementes, adubos, defensivos e outros custos operacionais para plantar um hectare de soja na próxima safra somam hoje R$ 581, ante os R$ 405 desembolsados na última safra.
Diante da alta de custos, Lourenço diz que não haverá expansão de área plantada com soja na sua região na safra 2008/2009. "Dentro do quadro tão otimista para as commodities, isso é decepcionante", afirma o presidente da Cocamar.
A análise do produtor é endossada pelo economista da MB Associados, Alexandre Mendonça de Barros. "Por causa da alta de custos, a rentabilidade da próxima safra não será estimulante para incorporar novas áreas à produção de grãos."
Já o analista da consultoria Safras & Mercado, Flávio Roberto de França Júnior, diz que facilmente a área total plantada com soja no País poderia crescer dois dígitos em razão das boas perspectivas de preços. Mas essa expansão pode ficar limitada a um dígito, entre 5% e 9%, por causa do grave problema de alta de custos, argumenta. "O calcanhar de Aquiles da próxima safra brasileira de grãos é a forte pressão de custos encabeçada pelos fertilizantes."
O quadro se torna mais grave no caso do milho, a nova estrela da safra brasileira, que consome muito mais fertilizante por hectare do que a soja. Paulo Roberto Molinari, economista da consultoria Safras & Mercado, calcula que possa ocorrer um redução de 5% na área plantada com milho na safra 2008/2009. Nessa projeção, ele considera o bom desempenho da safrinha que será colhida em meados do ano e o peso do gasto com insumos, especialmente com fertilizantes.
"O cenário é incerto para a próxima safra", observa o superintendente-técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ricardo Cotta. Ele argumenta que, pelo quadro mundial de oferta e demanda de alimentos, há boas perspectivas para ampliar a área de produção. Mas o especialista pondera que "o agricultor vai tomar um susto muito grande com os custos de produção".
NÚMEROS
142,1 milhões de toneladas foi quanto atingiu neste ano a safra brasileira de grãos
73% em reais foi quanto subiu o preço do fertilizante em 12 meses até abril, segundo o Índice de Preços por Atacado (IPA)
40% em reais foi quanto aumentou o preço do fertilizante só neste ano
75% é a alta do trigo na comparação com a última safra, de acordo com a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem)
50% foi a alta da soja e do arroz na comparação com a última safra, segundo a Abrasem
43% foi a alta do milho na comparação com a última safra FONTE: O Estado de São Paulo - 12/05/2008