Só na Fazenda São Judas Tadeu, em Esperantina, na região conhecida por Bico do Papagaio, no Tocantins, ele cria 7 mil cabeças de nelore em cerca de 5 mil hectares. Antes de virar pasto para o gado, a área era de mata fechada, com predomínio de palmeiras babaçu e buriti, predominantes na exuberante Mata dos Coqueirais - uma zona de transição entre o cerrado e a Floresta Amazônica que aos poucos vai ao chão, no processo do avanço das fronteiras.
As terras da vizinhança ainda têm matas de coqueirais intocadas. No pasto da fazenda do senador, onde as palmeiras foram substituídas pelo capim brachiária, ainda é possível ver resquícios do babaçu. As sementes que ficaram sob a terra insistem em nascer. Por atrapalharem o pasto, as pequenas palmeiras são arrancadas assim que rebrotam. O choque da substituição do babaçu pelo capim também é visível, visto que o chão ficou arenoso.
Todo o rebanho é destinado ao comércio, vendidos os exemplares ainda novilhos, ou para o abate. O leite só é tirado em quantidade pequena, exclusivamente para o consumo dos 11 funcionários do parlamentar e suas famílias.
Quando os bezerros dão sinais de que já podem sobreviver sozinhos, são desmamados e postos em engorda. Quanto mais rápido crescerem, melhor para a comercialização. Os que ficam velhos ou não servem mais para a reprodução são vendidos para frigoríficos do Tocantins, Ceará, Piauí e Maranhão. As fêmeas de boa qualidade viram matrizes.
À VISTA
Compradores de gado da região comentam que não gostam de negociar com o senador. "Ele exige o pagamento à vista", queixa-se Antonio da Silva, da vizinha Araguatins, que se especializou em adquirir "gado manco". Ele consegue o exemplar por preço mais baixo e o vende para abate. Esquartejada a vaca, o freguês não vai saber nunca que o seu bife veio de um espécime com algum tipo de defeito físico, mas aproveitável para a alimentação.
Os rebanhos ficam soltos na imensidão dos 5 mil hectares enquanto aguardam a vez de entrar nos caminhões e seguir para alguma fazenda, em algum ponto do Brasil, ou para os frigoríficos. Num pasto à esquerda, logo depois da entrada da fazenda, descansam os bois reprodutores.
Como o gado produzido na Fazenda São Judas Tadeu é destinado apenas ao comércio, agricultores sem-terra alegam que a área é improdutiva e deve ser desapropriada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para abrigar suas famílias.
Ligados ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Esperantina, eles construíram 203 barracos de palha de babaçu bem em frente à entrada da sede da fazenda, tendo a separá-los apenas o asfalto da TO-201. Atualmente, 122 famílias moram nos barracos.
Como não são ligadas ao Movimento dos Sem-Terra (MST), mais habituado às invasões, elas evitam ações mais ousadas, a exemplo da ocupação da fazenda. Permanecem por ali, vigilantes.
No dia 26, ao ser informado de que uma equipe de repórteres do Estado tinha chegado à sua fazenda, o senador ligou de Brasília para lá e se ofereceu para dar esclarecimentos. Disse que adversários políticos costumam difamá-lo, dizendo até que a sua fazenda não existe.
Maranhão perguntou se os repórteres tinham visto a quantidade de gado. Diante da resposta afirmativa, prosseguiu: "Você viu como a fazenda é produtiva, né?" Pergunta: "Por que o senhor não declarou o valor do gado?" Resposta: "Porque no formulário não há espaço para que sejam dados os valores. Mas pretendo corrigir isso."
O senador prosseguiu: "Você viu o maquinário? Os carros? As casas?" Diante do sim, o senador repetiu: "Tá vendo? A propriedade é altamente produtiva." Sua preocupação é com o que pode vir a acontecer com ela.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Esperantina requereu ao Incra uma vistoria das terras e a abertura de processo para desapropriação. Até agora, no entanto, os técnicos do instituto ainda não apareceram na propriedade.
Além do gado, que pode ser visto por quem passa pela rodovia TO-201 na pastagem que avança dezenas de quilômetros ao longo da estrada, há na fazenda tratores para arado, caminhão, caminhonetes e outras máquinas próprias para a pecuária.
Dos 11 funcionários - todos com carteira assinada, salário mínimo de R$ 380 e direito a almoço por conta da fazenda -, 5 são vaqueiros e outros 6 fazem serviços gerais. Eles residem em casas de alvenaria e de madeira, todas pintadas de branco, com água e luz, cada uma com antena parabólica. Todas as crianças estudam numa escola que fica a oito quilômetros de distância, num povoado, a Vila Tocantins. Têm transporte escolar.
DE BALSA
A sede da fazenda é simples. Tem uma sala de 36 metros quadrados, um aparelho de TV, um de telefone - que usa a linha fixa de Esperantina, distante 20 quilômetros - e alguns móveis já bastante gastos. De acordo com informação dos funcionários, a casa tem três quartos.
É lá que o senador fica, quando visita a propriedade. A casa vive cercada por perus. Só o senador os abate. Às vezes ele vai até a fazenda de avião.
Por isso, construiu uma pista de pouso, de terra, que fica dentro da propriedade. Quando vai de carro, tem de atravessar o Rio Tocantins, numa movimentada balsa que leva veículos e gente de Imperatriz, no sul do Maranhão, a Bela Vista (TO), início da rodovia TO-201. De Imperatriz até a fazenda são 120 quilômetros.
Dentro de uns dois anos o governo federal pretende inaugurar uma ponte sobre o Rio Tocantins, ligando Imperatriz a Bela Vista. As obras já estão adiantadas. O Ministério dos Transportes calcula que a obra ficará pronta em 15 meses. A ponte terá perto de 1,5 quilômetro de extensão.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, amigo de Maranhão e da líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), prometeu fazer uma grande festa no dia em que a balsa for aposentada, depois de décadas de atividade, para dar lugar à moderna ponte, incluída nas obras prioritárias do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A maior parte do eleitorado de Roseana fica no sul do Maranhão, região de Imperatriz.Paraíba e no Tocantins FONTE: Estado de São Paulo ? SP