A alteração abrupta do sistema de jornada de trabalho da Usina Santa Cândida (Grupo Tonon), de Bocaina 69 quilômetros de Bauru), motivou 400 cortadores de cana a decretarem greve ontem. Eles cruzaram os braços na primeira greve de rurícolas na história dessa usina. Os trabalhadores não concordam com a jornada batizada de 5 por 1 que corresponde a cinco dias seguidos de trabalho por um de folga.
O entrave da mudança é que, trabalhando cinco dias e folgando um, a usina suprime as folgas aos domingos e feriados, sem o pagamento da jornada em dobro, conforme prevê a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
Os grevistas reclamam ainda da falta de fornecimento do preço da cana no início da jornada, da não aceitação de atestados médicos e da não reposição de EPIs (equipamentos de segurança), além da falta de informação sobre a produção dos trabalhadores.
A denúncia, feita pelos sindicatos rurais de Bariri, Mineiros do Tietê, Itapuí e Boa Esperança do Sul, foi recebida pelo procurador do trabalho Luís Henrique Rafael, do Ministério Público do Trabalho (MPT), que se deslocou até as lavouras da Usina Santa Cândida nos municípios de Bocaina e Boa Esperança do Sul e ouviu os trabalhadores.
Segundo ele, os grevistas decidiram formar uma comissão integrada por dois rurícolas de cada turma para participarem de uma audiência de mediação com a usina. Os dirigentes sindicais Eduardo Porfílio (diretor da Feraesp), Adão Alves, Nei Basílio (sindicato de Bariri), Pedro e Dona Maria (sindicato de Boa Esperança do Sul) acompanharam os trabalhos e participarão da audiência hoje.
Rafael explicou que, diante da gravidade, resolveu permanecer na região para colher novas provas e preparar uma proposta para a audiência de hoje, que ele espera que termine com a jornada 5 por 1.
"Caso não haja uma solução, o MPT poderá ajuizar uma ação civil pública perante a Justiça do Trabalho e postular a anulação do sistema. Além de condenar a usina a uma indenização por danos morais aos trabalhadores e possibilitar à Justiça do Trabalho que imponha uma multa diária, caso as demais obrigações de fazer não sejam cumpridas."
Outras irregularidades
Os grevistas aproveitaram a presença do procurador para apontar outras irregularidades.
Cortadores estariam sendo obrigados a trabalhar debaixo de chuva e com a cana molhada, com precário fornecimento de água potável e falta de atendimento de trabalhadores acidentados nas frentes de trabalho.
Usina diz desconhecer reivindicações
Wilson João Fajardo, da Usina Tonon, de Bocaina, disse ontem que não sabe o número exato de trabalhadores parados e que desconhece as reivindicações deles. "Eles pararam e nós desconhecemos que tenha ocorrido algum problema."
Fajardo diz que tentou contato com o Sindicato de Bariri e não conseguiu falar com a dirigente sindical. "Não são todos que queriam parar, mas foram obrigados por uma pessoa. Eles saem prejudicados porque não produzem." FONTE: Jornal da Cidade de Bauru - 23/04/2008