A CONTAG lamenta profundamente a morte do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier, na última segunda-feira, 2 de outubro. O professor doutor Luiz Carlos cometeu suicídio após ter sido preso injustamente, acusado de obstrução de uma investigação, referente ao desvio de recursos em cursos de Educação à Distância (EaD) oferecidos pelo programa Universidade Aberta no Brasil (UAB) na UFSC. O reitor chegou a ser solto. No entanto, foi afastado das funções por decisão judicial.
A UFSC é uma parceira da Educação do Campo e da CONTAG. Esta universidade começou a sua trajetória na Educação do Campo em 2004, com cursos de EJA do Pronera e sempre contribuiu para a transformação de programa para política pública. Além disso, a UFSC oferta turmas de Licenciatura em Educação do Campo e contribui, efetivamente, para a construção e implementação de uma política de educação do campo infantil.
Portanto, a CONTAG repudia a forma como o poder de polícia e o jurídico vêm afrontando a democracia no Brasil. É inadmissível que fatos como este possam continuar acontecendo em nosso País, em que os direitos mais fundamentais dos cidadãos e cidadãs são postos de lado em nome de um moralismo espetacular.
A CONTAG presta a sua solidariedade à família, aos amigos e amigas, ao corpo docente e aos alunos e alunas da UFSC. Que essa tragédia não impacte negativamente na direção da universidade, que todos(as) tenham força para dar continuidade ao trabalho que o reitor Luiz Carlos Cancellier vinha desenvolvendo em defesa de uma educação e formação de qualidade, com diversidade e de transformação.
Segue texto escrito pelo reitor poucos dias antes de sua morte:
"Reitor exilado" "Não adotamos qualquer atitude para obstruir apuração da denúncia” A humilhação e o vexame a que fomos submetidos — eu e outros colegas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) — há uma semana não tem precedentes na história da instituição. No mesmo período em que fomos presos, levados ao complexo penitenciário, despidos de nossas vestes e encarcerados, paradoxalmente a universidade que comando desde maio de 2016 foi reconhecida como a sexta melhor instituição federal de ensino superior brasileira; avaliada com vários cursos de excelência em pós-graduação pela Capes e homenageada pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Nos últimos dias tivemos nossas vidas devassadas e nossa honra associada a uma “quadrilha”, acusada de desviar R$ 80 milhões. E impedidos, mesmo após libertados, de entrar na universidade. Quando assumimos, em maio de 2016, para mandato de quatro anos, uma de nossas mensagens mais marcantes sempre foi a da harmonia, do diálogo, do reconhecimento das diferenças. Dizíamos a quem quisesse ouvir que, “na UFSC, tem diversidade!”. A primeira reação, portanto, ao ser conduzido de minha casa para a Polícia Federal, acusado de obstrução de uma investigação, foi de surpresa. Ao longo de minha trajetória como estudante de Direito (graduação, mestrado e doutorado), depois docente, chefe do departamento, diretor do Centro de Ciências Jurídicas e, afortunadamente, reitor, sempre exerci minhas atividades tendo como princípio a mediação e a resolução de conflitos com respeito ao outro, levando a empatia ao limite extremo da compreensão e da tolerância. Portanto, ser conduzido nas condições em que ocorreu a prisão deixou-me ainda perplexo e amedrontado. Para além das incontáveis manifestações de apoio, de amigos e de desconhecidos, e da união indissolúvel de uma equipe absolutamente solidária, conforta-me saber que a fragilidade das acusações que sobre mim pesam não subsiste à mínima capacidade de enxergar o que está por trás do equivocado processo que nos levou ao cárcere. Uma investigação interna que não nos ouviu; um processo baseado em depoimentos que não permitiram o contraditório e a ampla defesa; informações seletivas repassadas à PF; sonegação de informações fundamentais ao pleno entendimento do que se passava; e a atribuição, a uma gestão que recém completou um ano, de denúncias relativas a período anterior. Não adotamos qualquer atitude para abafar ou obstruir a apuração da denúncia. Agimos, isso sim, como gestores responsáveis, sempre acompanhados pela Procuradoria da UFSC. Mantivemos, com frequência, contatos com representantes da Controladoria-Geral da União e do Tribunal de Contas da União. Estávamos no caminho certo, com orientação jurídica e administrativa. O reitor não toma nenhuma decisão de maneira isolada. Tudo é colegiado, ou seja, tem a participação de outros organismos. E reitero: a universidade sempre teve e vai continuar tendo todo interesse em esclarecer a questão. De todo este episódio que ganhou repercussão nacional, a principal lição é que devemos ter mais orgulho ainda da UFSC. Ela é responsável por quase 100% do aprimoramento da indústria, dos serviços e do desenvolvimento do estado, em todas as regiões. Faz pesquisa de ponta, ensino de qualidade e extensão comprometida com a sociedade. É, tenho certeza, muito mais forte do qualquer outro acontecimento". FONTE: DIRETORIA DA CONTAG