Diretamente responsável pelo forte aumento global dos preços dos alimentos, a crescente demanda dos países emergentes, particularmente China e Índia, também é determinante para o galopante encarecimento dos insumos agrícolas no mercado internacional.
Grandes importadores de grãos e outros produtos agropecuários, esses países - a Rússia entre eles - vêm tentando estimular o aumento de suas próprias produções, em geral ineficientes e carentes de investimentos. Daí a importância dos insumos, muitos dos quais com expressivas ofertas locais, ao contrário do que acontece com os alimentos.
O caso dos fertilizantes é emblemático. Elevados à condição de vilã da agroinflação por agricultores do mundo todo, os adubos são produzidos em larga escala em China, Índia e Rússia, cada um com uma especialidade. E normalmente são exportados para celeiros como o Brasil, que agora passaram a enfrentar mais dificuldades para recebê-los.
Com a alta de subsídios locais e a imposição de tarifas sobre os embarques, dizem especialistas, chineses, indianos e russos terminam, involuntariamente, por colaborar para a criação de um círculo vicioso que vem resultando em mais aumento dos preços. Isso porque insumos mais caros - e os fertilizantes mais do que dobraram no último ano - significam alimentos mais caros.
De 2000 a 2006, a demanda chinesa saltou de 34,4 milhões de toneladas de nutrientes para 47,7 milhões, segundo a Associação Internacional da Indústria de Fertilizantes (IFA), com sede em Paris.
Como observa Mário Barbosa, presidente da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), que também preside a Bunge Fertilizantes, apenas o aumento chinês supera de longe todo o consumo brasileiro, calculado pela IFA em 8,9 milhões de toneladas de nutrientes em 2006 - em produtos finais, foram quase 21 milhões de toneladas naquele ano.
No caso da Índia, o incremento de 2000 para 2006 foi de 17,7 milhões para 20,1 milhões de toneladas, e com isso os dois gigantes emergentes (China e Índia) determinaram o salto do consumo mundial no intervalo, de 136,7 milhões para 157,3 milhões de toneladas. A partir desta explosiva demanda - e preocupados em atendê-la da forma mais acessível -, ambos adotaram medidas que alavancam os preços e preocupam países importadores.
Entre essas medidas estão os subsídios, prática adotada por chineses e indianos. Barbosa observa que, só na Índia, foram US$ 25 bilhões em subsídios para facilitar a compra de adubos apenas no ano passado.
Mas, apesar do potencial distorcivo que carregam, os subsídios não estão no topo da lista de preocupações dos importadores, que reservam o posto para as tarifas sobre as exportações, em alta com a expressiva escalada dos preços e, apesar dela, do apetite de países de Brasil e Argentina, interessados em plantar para atender ao consumo mundial de alimentos e aproveitar os excelentes preços de grãos como milho, trigo e soja.
Na China, as exportações de nutrientes derivados do nitrogênio já pagam taxa entre 100% e 130%. Para os nutrientes derivados do fosfato, as tarifas variam de 130% a 135%. A Rússia, outro emergente grande exportador de fertilizantes, taxa os embarques de nitrogenados e de fosfatados em 8,5%, impõe tarifa de 6,5% sobre as vendas externas de enxofre - é imprescindível para a produção de fosfatados - e de 5% sobre os embarques de nutrientes do potássio.
Nitrogênio, fosfato e potássio são as principais fontes de nutrientes para adubos. No mundo, nenhum deles está sobrando. No Brasil, são limitados as fontes de nitrogenados e potássicos. As de fosfatados são menos restritas, mas, como em todos os casos, os investimentos para explorar essas fontes são bilionários. FONTE: Valor Econômico - 12/05/2008