18/10/2007
A Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) começa neste mês a colocar em prática um programa que tentará profissionalizar a classe média rural das principais regiões produtoras de grãos, café e gado do país. Batizado como "Campo Futuro", o projeto-piloto busca disseminar o uso de instrumentos de gestão de riscos na atividade agropecuária, além de garantir níveis mínimos de rentabilidade ao produtor e contribuir para o crescimento de longo prazo do setor rural.
Gestado em meio à dura crise de renda que golpeou os produtores de grãos nas últimas duas safras, o programa terá duas linhas: treinamento de produtores para realizar operações em mercados futuros e criação de um sistema de informação para estabelecer referências regionais sobre custos de produção. O "Campo Futuro" terá foco em 500 produtores classificados como "médio-grandes", cujo tamanho da propriedade varia de 500 a 5 mil hectares no Centro-Oeste e de 100 a 1 mil hectares no Sul do país.
A extensa base de dados resultante do projeto também servirá à ação política da CNA. O objetivo é usar os dados, recolhidos em 200 painéis regionais promovidos até julho de 2008, para contrapor estatísticas e argumentos usados pela agroindústria em negociações de preços, além de reforçar as demandas do setor junto aos governos e de servir como orientação à base parlamentar ruralista no Congresso Nacional para a proposição de projetos de lei.
"Os mercados futuros são um dever de casa dos produtores para compreender instrumentos já disponíveis", afirma o superintendente técnico da CNA, Ricardo Cotta. "E o levantamento de custo permitirá saber com clareza o menor custo e a maior rentabilidade em cada Estado, em cada região". O projeto-piloto será aplicado aos produtores de soja, milho e pecuária de corte. Em 2008, será estendido aos produtores de algodão, arroz, trigo, café e pecuária de leite.
O sistema de informações, a ser atualizado mensalmente, permitirá à CNA monitorar e acompanhar os detalhes dos custos de produção desde a variação dos preços dos insumos (sementes, fertilizantes, defensivos, ração animal, sal mineral, vacinas, máquinas e equipamentos agrícolas) até indicadores de desempenho (produtividade) e competitividade de cada região específica.
"Chegaremos a uma fotografia da propriedade típica de cada região", afirma Cotta. "Vamos saber onde o produtor compra, quanto paga, para quem vende, como vende, o grau de utilização de tecnologia e o tamanho das propriedades". Revendas de insumos e cooperativas entram, segundo ele, como colaboradores do sistema.
As equipes da CNA já começaram a ir a campo para realizar os levantamentos dos dados. Os principais pólos agrícolas dos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são os primeiras a receber os especialistas. Na parte de treinamento, a CNA começa nesta semana o processo de formação dos chamados multiplicadores das informações sobre mercados futuros. São os técnicos das federações e dos sindicatos rurais, além dos professores do Senar, que vão capacitar os produtores no campo.
O braço educacional do "Campo Futuro" será desenvolvido em convênio com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea-USP), a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). No levantamento de custos, também entram as federações estaduais de Agricultura e a Universidade Federal de Lavras (UFLA). FONTE: Valor Econômico ? SP