O resultado da nova safra de grãos, fibras e cereais deve ser afetado pela falta de chuvas em regiões produtoras importantes dos Estados do Paraná, Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul. Mesmo assim, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) anunciaram ontem (dia 8) estimativas recordes para o ciclo 2007/08.
Mais conservadora, a Conab já incorporou a previsão trimestral negativa de clima até janeiro, estimando a nova safra em 135,53 milhões de toneladas para uma área de 46,78 milhões de hectares. O IBGE previu 137,08 milhões de toneladas em 46,67 milhões de hectares, apostando na recuperação das chuvas que deixaram de cair em outubro e na forte utilização de tecnologia, como fertilizantes, nas lavouras. Na safra anterior (2006/07), foram colhidas 131,75 milhões de toneladas, segundo a Conab.
"Não ficaria surpreso se a safra fosse um pouco menor do que estimamos", disse o diretor de logística da Conab, Silvio Porto. "O milho no Paraná e Rio Grande do Sul deve ter produtividade inferior à média em janeiro, o que significa que podemos ficar abaixo dos 135 milhões de toneladas". Segundo Porto, o fenômeno "La Niña" tem esquentado as águas do Pacífico Sul, o que afeta o clima de todo o continente. Assim, a seca tende a ser mais agressiva no Brasil, sobretudo na região centro-sul.
A partir de dezembro, as estimativas de safra passarão a ser divulgadas de forma conjunta entre Conab e IBGE. Será a primeira tentativa concreta de unificar os dados. O levantamento deve passar a ser feito por ano civil, e não mais por ano-safra, e terá publicação simultânea no Rio e em Brasília. As estimativas ainda manterão algumas diferenças de metodologia e de critérios. A Conab, por exemplo, seguirá utilizando as previsões climáticas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e a considerar as médias dos últimos cinco anos para estabelecer as produtividade das lavouras. Para a nova safra, a Conab trabalha com uma elevação de 1,6% na produtividade global do país.
Os dados divulgados ontem pela Conab mostram que a nova safra de soja deve crescer 1,7%, passando de 58,39 milhões para 59,37 milhões de toneladas. O IBGE prevê 59,32 milhões. Para o milho, há uma divergência mais substancial dentro do governo: a Conab estima produção de 51,82 milhões de toneladas e o IBGE, 53,37 milhões.
Exatamente pelo uso das previsões climáticas. "Ocorre que o IBGE ainda não incorporou a possibilidade de redução da safrinha de milho, que tem forte chance de ser afetada pela seca em plena época de floração e formação dos grãos", afirmou o gerente de levantamento e avaliação de safras da Conab, Eledon Pereira de Oliveira. O IBGE prevê a colheita de 15,11 milhões de toneladas de milho na safrinha e a Conab, 14,5 milhões. É uma diferença de 607 mil toneladas.
O novo levantamento da safra 2007/08 também indica uma boa recuperação na produção de trigo. Ambos institutos prevêem um total de 3,8 milhões de toneladas em uma área plantada de 1,81 milhão de hectares. Com isso, a Conab acredita que o país voltará a ter garantida uma parcela maior do abastecimento interno do cereal. "A produção maior vai ajudar, sobretudo no trigo, que foi um dos produtos que mais pressionou a inflação neste ano", disse Porto.
As estatísticas da Conab para a nova safra também apontam uma colheita de algodão 5,5% superior à safra passada, saltando de 2,38 milhões para 2,51 milhões de toneladas de caroço. O IBGE prevê 2,53 milhões. A produção de arroz, beneficiada pelas chuvas fartas no Rio Grande do Sul, pode chegar a 11,97 milhões de toneladas ante 11,31 milhões do ciclo 2006/2007, segundo a Conab. O IBGE estima os mesmos 11,97 milhões. Para o feijão, entretanto, as divergências são maiores. A Conab prevê uma safra total de 3,25 milhões de toneladas - 2,5% inferior aos 3,33 milhões da safra anterior. O IBGE estima um total de 3,36 milhões de toneladas.