17/01/2008
Cientistas de uma universidade americana apresentaram nesta semana uma cenoura geneticamente modificada "turbinada" com cálcio, o que poderá ser uma opção para consumidores com deficiência do nutriente mas alérgicos a leite e seus derivados.
O anúncio avança significativamente a pesquisa da chamada segunda geração de transgênicos - com componentes que enriquecem nutricionalmente os vegetais - desenvolvida nos laboratórios. Hoje são vendidos apenas transgênicos de primeira geração, as já conhecidas sementes resistentes a insetos e herbicidas.
O estudo foi publicado nesta semana pela revista especializada Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), da conceituada Academia Nacional de Ciência dos Estados Unidos.
Para chegar ao resultado, os cientistas americanos modificaram um gene para facilitar o transporte do cálcio através das membranas da planta. Eles observaram que um grupo de camundongos alimentados com cenouras modificadas absorvia igual quantidade de cálcio que aquele alimentado com o dobro de cenouras convencionais. Com 30 humanos adultos, a constatação foi de absorção 41% maior.
"Essas cenouras foram cultivadas em ambientes cuidadosamente monitorados e controlados", disse Kendal Hirschi, principal pesquisador do Baylor College of Medicine, em Houston (Texas), no website da universidade. Ele ressalta, porém, que outros experimentos devem ainda ser feitos para que o produto seja disponibilizado para consumo.
A cenoura com cálcio não é a primeira experiência em melhoramento nutricional de alimentos. Os estudos com a segunda geração de transgênicos tiveram início no ano 2000, mas ganham força a cada ano, explica Alda Lerayer, diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), uma organização não-governamental (ONG) formada pelas grandes empresas de biotecnologia. "Eles são fortes principalmente nos EUA", diz.
Além da cenoura, os pesquisadores têm trabalhado com batatas, brócolis, mandioca, tomates, arroz, milho, trigo e soja. No Brasil, só a Embrapa realiza estudos com batatas. Neste caso, a tentativa é de inserir vitamina A ao tubérculo rico em carboidrato. "É importante para populações como a do Nordeste, cuja dieta está baseada na mandioca", diz Alda.
Há várias frentes de ação. Todas ainda estão em fase de testes em campo, para biossegurança ambiental como agronômica.
Além da injeção de vitamina A em batatas, os pesquisadores tentam também diminuir a quantidade de água e amido, de modo que elas absorvam menos óleo na fritura. Com o brócolis, os esforços são para elevar um elemento químico da verdura, o sulforafane, que minimiza riscos de câncer. "Assim como chá verde, cúrcuma e soja", diz Alda.
A diretora do CIB lembra que há também pesquisas genéticas para aumentar os micronutrientes dos alimentos. Em alguns países, ferro e zinco já foram elevados no feijão, milho, trigo e soja.
Mas nem todos concordam com esses "avanços". Ambientalistas e grupos de consumidores argumentam que a série histórica das pesquisas ainda é muito pequena para saber os danos que a mudança genética podem provocar no homem e no ambiente. FONTE: Valor Econômico ? SP