A coordenadora da Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Contag e vice-presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Carmen Foro, defendeu ontem na 2ª Plenária Nacional de Mulheres da entidade a necessidade de investimento em políticas públicas para o campo.
"Precisamos avançar na perspectiva do crédito, atualmente restrito a 50% do valor que recebem nossos companheiros, e na valorização da agricultura familiar, que produz 70% dos alimentos consumidos no país."
Carmen Foro foi uma das palestrantes da mesa que abordou a conjuntura atual para as mulheres trabalhadoras. Ela iniciou a apresentação apontando a necessidade de se avançar na questão das cotas. "Há 15 anos aprovamos a lei de cotas, mas não observo isso com tanto entusiasmo, porque ainda brigamos para que os sindicatos e as CUTs estaduais cumpram essa definição estatutária."
Para ela, alguns temas como o aborto e a lei de cotas deveriam ser tratados como prioridade para o conjunto da CUT. "Determinados assuntos parecem ser apenas temas das mulheres, quando deveriam estar inseridos no conjunto da Central. Por que é obrigatório estar quites com a contribuição para a entidade para participar das plenárias e o tema de cotas é flexível? Não dá para defender um modelo de desenvolvimento lá fora e não cumprir obrigações dentro de casa", afirmou.
Também participaram da mesa a supervisora do Escritório do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Eliana Elias, e a representante da Marcha Mundial das Mulheres, Nalu Faria.
Eliana destacou que a redução da jornada e a limitação do número de horas extras seriam capazes de criar mais de dois milhões de empregos, beneficiando, principalmente, as mulheres e os jovens, principais afetados pelo desemprego. "Do total de ocupados em 1992, as trabalhadoras representavam 38,8%, enquanto, em 2006, são 42,6%. Por outro lado, esse aumento coincide com um processo de flexibilização das relações trabalhistas, reforçando ainda mais as dificuldades e desigualdade", analisa. Prova disso é que as representantes do sexo feminino recebem 71,2% do valor pago aos do sexo masculino.
Para Nalu Faria, o individualismo e a competição predatória, princípios do neoliberalismo, afetaram diretamente a vida das mulheres. "A diminuição do papel do Estado em áreas como educação aumentou a responsabilidade das mulheres, assim como acontece na busca incansável da 'beleza'. Muitas mulheres acreditam que a vida não é boa porque não possuem um corpo semelhante a das atrizes de novela. Isso é um retrocesso em relação à luta feminista de autonomia sobre o corpo", defende.
A integrante da Marcha Mundial de Mulheres destaca a necessidade de discutir a exclusão das trabalhadoras do espaço político e a importância de valorizar a sustentabilidade humana como pilar da sociedade.
Homenagem - Na edição em que comemora 25 anos de existência, a CUT presta uma homenagem póstuma à Maria Ednalva Bezerra de Lima, ex-Secretária Nacional Sobre a Mulher Trabalhadora, que faleceu no dia 3 de setembro do ano passado.
A mesa de abertura, sob coordenação da secretária nacional sobre a Mulher Trabalhadora da CUT, Rosane da Silva, contou com o presidente Nacional da CUT, Artur Henrique, além de representantes dos movimentos sociais, do governo federal, de entidades internacionais e de institutos ligados aos trabalhadores.
Artur Henrique fez um breve balanço sobre a história das mulheres trabalhadoras e salientou que há muito a comemorar: "devemos lembrar os debates e as resoluções sobre a descriminalização do aborto, que encampamos, reforçando a necessidade de continuar essa discussão. Também precisamos lembrar da definição sobre cotas por gênero e o apoio para a aprovação da Lei Maria da Penha, que combate a violência contra a mulher", afirmou. FONTE: Luiz Carvalho e Ana Paula Carrion, da assessoria de imprensa da CUT