A cana-de-açúcar já é a segunda principal fonte de energia do Brasil, atrás apenas do petróleo. A informação é do presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, que divulgou ontem dados preliminares do Balanço Energético Nacional de 2007. Segundo o estudo, a cana e seus derivados ultrapassaram a energia hidráulica e foram responsáveis por 16% da matriz energética em 2007.
Segundo Tolmasquim, a evolução foi provocada pelo crescimento de 46,1% no consumo de álcool hidratado durante o ano. "Isso é reflexo do aumento das vendas de carros bicombustíveis e da produção de álcool, que contribuiu para baixar o preço do produto."
Em 2007, os produtos da cana foram responsáveis pela oferta de 38,4 milhões de toneladas de petróleo equivalente (TEP) em energia no País.
A TEP faz a comparação da energia gerada por outras fontes com a que poderia ter sido produzida a partir do petróleo. E apontou crescimento de 17,1% da energia vinda da cana ante o verificado em 2006.
Em 2006, a cana-de-açúcar ocupava o terceiro lugar na matriz energética brasileira, com uma parcela de 14,5%. A energia hidráulica tinha então 14,8%, mas perdeu participação no ano seguinte, caindo para 14,7%. Tolmasquim acredita que os produtos da cana tendem a manter a segunda posição nos próximos anos, mesmo após a entrada de projetos hidrelétricos de porte, como as usinas do Rio Madeira e Belo Monte. Segundo ele, há projeções de crescimento no consumo de álcool e na geração de energia a partir do bagaço.
De toda a energia gerada pela cana, cerca de 25% representam o consumo de álcool combustível, informou a EPE. O restante é fruto da geração de eletricidade e de vapor para uso em processos industriais, principalmente na produção de açúcar. A participação dos produtos de cana na oferta de eletricidade, porém, ainda é pequena, em torno dos 3%. Neste caso, a energia hidráulica segue imbatível, com uma fatia de 85,6%.
Para o presidente da EPE, no entanto, a participação da biomassa na oferta de energia elétrica tende a crescer. Em junho, o governo realiza leilão para a compra de energia de reserva para o sistema elétrico, que terá como foco esse tipo de fonte energética. Ele defendeu ainda que a expansão da oferta de cana não tem impacto sobre o preço dos alimentos - crítica recorrente no mercado internacional -, pois há grande volume de pastagens que podem ser usadas para o plantio adicional.
O estudo da EPE indica que cresceu a participação das energias renováveis na matriz energética brasileira. Em 2007, foram responsáveis pela oferta de 111 milhões de TEP (46,4% do total). O número é 9,4% superior ao registrado em 2006. Já o grupo petróleo e derivados teve uma participação de 36,7% da matriz, queda de 0,9 ponto porcentual ante o ano anterior. Tolmasquim lembrou que o Brasil vem conseguindo ampliar a participação das fontes renováveis sem subsídios ao consumidor, como ocorre com a energia eólica na Europa, por exemplo.
A maior participação das renováveis coloca o Brasil em posição privilegiada com relação às emissões de gás carbônico, ressaltou o executivo. Segundo a EPE, as emissões brasileiras foram equivalentes a 1,84 tonelada de dióxido de carbono (CO2) emitiram o equivalente a 19,61. A média mundial ficou em 4,22 toneladas por habitante.
Por outro lado, o Balanço Energético Nacional detectou um acréscimo de 8,6% no consumo de carvão mineral, combustível responsável em 2007 por 6,2% da matriz energética brasileira. Tolmasquim explica que o desempenho é reflexo do crescimento da produção de aço, que usa o carvão como redutor siderúrgico. O Brasil importa todo o carvão mineral que consome. FONTE: O Estado de São Paulo - 09/05/2008