BELÉM, PA - Dezenove camponeses, entre os quais mulheres, dirigentes e ativistas da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) do Pará e Tocantins, estão com prisão preventiva decretada. Um hábeas corpus em favor deles aguarda julgamento no Tribunal de Justiça do Pará.
No início do mês, a pedido da LCP, a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Pará promoveu audiência pública no município de Redenção, para comprovar a veracidade das denúncias das atrocidades cometidas contra os camponeses no final do ano passado. Participaram representantes de diversos acampamentos nos quais atuou a Operação Paz no Campo, promovida pelo Governo do Pará. Eles relataram com emoção a situação pela qual passaram.
Compareceram também à audiência representantes das polícias Civil, Militar e Federal, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, e o advogado de Tarcísio Andrade - filho do latifundiário Jairo Andrade. Os camponeses protestaram quando ouviram a defesa da operação. Ouviram-no, mas também contaram o que sofreram.
O coordenador da LCP no Pará e no Tocantins, Luiz Lopes de Barros, disse ao jornal A Nova Democracia que os camponeses vêm estão sendo alvo de perseguição na chamada Operação Paz no Campo, apelidada pela LCP de "terror no campo". A Agência Amazônia publica a entrevista, na íntegra.
Há quantos anos o senhor está na luta camponesa?
Luiz Lopes de Barros - Nasci em Itacajá (TO) em 1954 e em 1980 fixei moradia em Conceição do Araguaia (PA). Iniciei minha militância política pela luta pelos direitos sociais e democráticos em 1982 e a partir daí venho lutando junto com os movimentos sociais e venho ajudando a impulsionar a economia da região através da mobilização e organização dos pequenos produtores. Conceição do Araguaia é importante para a luta dos camponeses porque é um dos municípios com mais área de assentamentos do Brasil. Participei da fundação de mais de vinte associações de trabalhadores rurais na região. Participei de associação de moradores e na construção do PT. Fiz parte de diversos movimentos democráticos, sempre confiando que as coisas iam mudar para melhor.
De que forma era a luta pela terra nela época?
As pessoas entravam na terra e iam logo trabalhando. Conforme a força do movimento, os trabalhadores conseguiam legalizar as terras. Desde o governo FHC a terra que for ocupada pelos trabalhadores não pode ser dividida pela reforma agrária. Lula prometeu derrubar isto, mas não cumpriu a promessa. Mas com toda lei falando que não pode, os camponeses, mesmo arriscando a vida, querem é entrar na terra, cortar os lotes e já começar a produzir.
Como foi a organização da Liga dos Camponeses Pobres na região?
Tomamos conhecimento do desenvolvimento das Ligas dos Camponeses em outras regiões do país e achamos por bem organizá-la em nossa região. Nós precisamos reerguer o movimento de luta camponesa na região. Em 2006 friz\emos o congresso de fundação da Liga dos Camponeses Pobres do Pará e Tocantins. A fundação da LCP provocou um grande impacto. Os camponeses avançaram na luta, saindo dos velhos acampamentos e partiram direto para as posses, dividindo a terra, produzindo e desenvolvendo a região.
Quais as principais lutas já empreendidas pela Liga?
Apoiamos o desenvolvimento de várias áreas já tomadas por camponeses (e já legalizadas) no Tocantins. Participamos da luta na Fazenda Bradesco, ocupando suas melhores terras que, com a desculpa de que eram área de reserva, estavam nas mãos de protegidos do governo. Apoiamos os assentamentos Santa Mariana, São Judas Tadeu e Nazaré. Apoiamos os acampamentos Prainha e Morro Alto. Organizamos a tomada e divisão da Fazenda Batente e tomamos e dividimos a área que resultou no Acampamento Gabriel Pimenta, todos em Conceição do Araguaia. Neste ano mobilizamos e tomamos a fazenda Forkilha em Santa Maria das Barreiras.
Os governos se sucedem prometendo reforma agrária e apoio para os trabalhadores rurais. Isto tem ocorrido na região?
O que vem acontecendo é o contrário. E quando os camponeses lutam reivindicando seus direitos são perseguidos, espancados, torturados e assassinados. O direito democrático dos camponeses não é respeitado pelas polícias estaduais e Polícia Federal na região. Eu mesmo tenho recebido ameaças de morte de parte de latifundiários que querem ter direito de posse em área de reforma agrária; eles colocam pistoleiros dentro das áreas ameaçando as lideranças da região e principalmente do acampamento. Isto está acontecendo no Assentamento Nazaré, aqui em Conceição do Araguaia. E este mesmo latifundiário comandou um grupo de pistoleiros que atacou o acampamento na fazenda Batente, área tomada pela Liga em 2006.
Apesar das denúncias à justiça e órgãos governamentais, a pistolagem continua agindo livremente na região. Os camponeses estão sendo alvo de perseguição agora na chamada Operação Paz no Campo que todos estão chamando de terror no campo. É a governadora Ana Júlia que deu ordem para tudo isto acontecer. Trabalhadores, mulheres, velhos e crianças foram covardemente atacados, torturados e expulsos da fazenda Forkilha. Vários companheiros continuam presos e todos coordenadores da Liga estão com mandado de prisão.
Como o senhor vê a questão das ameaças de morte que tem sofrido e agora com altas cifras de dinheiro oferecidas pelos latifundiários?
A questão das ameaças só resolveria se houvesse apuração e punição dos culpados. No meu caso sofri ameaças da PM e pistoleiros, que trabalham juntos. Mas as pessoas que escutaram as ameaças temem denunciar, pois também se sentem ameaçados. Aqui as ameaças só são levadas em conta quando morre. Foi o caso dos advogados Gabriel Pimenta, Paulo Fonteles e João Batista, irmã Dorothy e padre Josino, dentre tantos outros. E o pior que os ameaçados não podem usar arma para se defender, porque se for pego é preso em flagrante. O pistoleiro ou policial que pode executar tem liberdade de andar armado. FONTE: Agência Amazônia