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CÂMBIO CONCENTRA PREOCUPAÇÕES N
Câmbio concentra preocupações no campo
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03 de Janeiro de 2008

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O esperado aumento da safra brasileira de grãos e a tendência de preços firmes para as principais commodities agropecuárias produzidas e exportadas pelo país não são suficientes para garantir lucros polpudos no campo neste ano.

Especialistas concordam que o cenário é promissor, mas contêm a euforia. Afirmam que a renda das lavouras ("da porteira para dentro") se manterá em recuperação com os mercados valorizados e acreditam em novos avanços nas exportações e no PIB do agronegócio, também sustentados pelas carnes. Mas, em geral, encaram câmbio, custos, sustentabilidade e infra-estrutura com preocupação e projetam taxas de incrementos menores que as do ano passado.

"Teremos a segunda safra seguida com boa rentabilidade para os grãos. Mas como os custos subiram muito, sobretudo no caso dos fertilizantes, e o dólar seguirá fraco na comercialização, quem não tomar cuidado perderá a oportunidade de aproveitar a fase", afirma Alexandre Mendonça de Barros, da MB Associados e do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Nos cenários que traça, a MB leva em consideração que a crise hipotecária americana vai continuar e que a curva do dólar não mudará significativamente pelo menos até setembro ou outubro, quando o grosso da atual safra brasileira de grãos (2007/08) estará vendido.

Isso sem contar as vendas antecipadas da produção, particularmente aceleradas no caso da soja no Centro-Oeste. Ainda com elevados endividamentos - outro problema até agora sem solução -, mais sojicultores da região recorreram às vendas antecipadas para tradings para custear o plantio, nem sempre em condições ideais.

Como a queda do dólar tem sido contínua desde 2003, os agricultores brasileiros vêm sendo prejudicados também pela diferença entre a cotação da moeda americana no momento da definição da compra de insumos e na hora da venda da colheita.

A grosso modo, desprezadas vendas antecipadas e outras estratégias de hedge, a aquisição de fertilizantes e defensivos (com preços dolarizados por ser o Brasil importador) visando às safras de verão é mais concentrada nos terceiros trimestres, enquanto as vendas ganham força nos segundos trimestres dos anos posteriores. Para as safras de verão, o "gap" acontece desde 2003/04. Em 2006/07, segundo o Valor Data, o valor médio do dólar fechou o terceiro trimestre de 2006 a R$ 2,1709 e o segundo trimestre de 2007 a R$ 1,9818.

Com tal comportamento cambial - e com as previsões de que ele pode cair mais em relação ao real quando o Brasil conquistar seu desejado "grau de investimento" - as oscilações de preços de insumos e commodities vêm tirando o sono dos agricultores. Na safra 2006/07, ambos registraram altas superiores à retração do dólar e o saldo foi positivo para o agronegócio e negativo para a inflação, que sofreu forte pressão dos alimentos.

Para o plantio de 2007/08, fertilizantes e o herbicida glifosato, muito utilizados em plantações de grãos, subiram mais de 30% no Centro-Oeste, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), e resta confiar que as cotações dos grãos, embaladas pela crescente demanda global por alimentos e matérias-primas para bioenergia, voltarão a compensar o aumento. Neste caso, com mais inflação.

Os preços dos contratos futuros da soja, por exemplo, encontram-se acima de US$ 10 por bushel desde o segundo semestre de 2007. Não é comum, e novas altas como a de ontem (ver página B10) são esperadas em 2008, ainda que em mercados mais voláteis. Este patamar havia sido superado pela última vez no primeiro semestre de 2004, mas na época o dólar valia quase R$ 3.

Distante dos portos, o produtor do Centro-Oeste paga mais para receber adubos e escoar a produção de grãos; e os fretes, por causa da demanda aquecida e do petróleo em picos históricos, pressionam cada vez mais.

"Outro problema é a mão-de-obra, que está mais cara. Nas lavouras de café, isso ainda não é um problema no cultivo da variedade robusta [menos valorizada e que exige menos investimentos], mas já reduz margens na produção de arábica", afirma Mendonça de Barros.

Em geral, segundo projeções de José Garcia Gasques, coordenador de planejamento estratégico do Ministério da Agricultura, os preços serão mais que um alento e a renda agrícola das 20 principais lavouras do país deverá alcançar R$ 125,6 bilhões em 2008, 6% mais que em 2007.

Confirmada a expectativa, será um crescimento menor que o do ano passado, que foi de quase 12% em relação a 2005. Como houve na safra passada uma explosão de preços de produtos como milho, soja e trigo nos mercados externo e interno, a queda no ritmo de expansão não pode, segundo analistas, ser considerada uma tragédia.

Mais preocupante é o futuro das exportações do agronegócio. Estima-se que os embarques de todo o setor, incluindo os produtos processados, renderam US$ 58 bilhões em 2007, 18% mais que no ano anterior. Preços e volumes, dependendo do segmento, compensaram o dólar e voltaram a acelerar o crescimento, que em 2006 foi de 13% na comparação com 2005, mas para manter o ritmo será preciso uma nova combinação semelhante.

Nesta conta, porém, entram carnes e etanol. O primeiro grupo disputou com a soja a liderança das exportações do agronegócio em 2007 e deve seguir em alta, mas poderá enfrentar restrições na União Européia no ramo de bovinos por questões sanitárias. O Brasil já representa mais de 30% das exportações mundiais de carne bovina.

Já os embarques de etanol, que dispararam em 2006, amargaram a ausência de um mercado internacional consolidado e caíram no ano passado, devem voltar a subir.

Para Fabio Silveira, da RC Consultores, entre 2008 e 2012 haverá uma aceleração das exportações brasileiras de álcool e, ao mesmo tempo, os Estados Unidos continuarão avançando em seu programa doméstico de produção de etanol a partir de milho.

Bom para o mercado global do combustível e para as exportações de milho do Brasil, que superaram 10 milhões de toneladas em 2007 (recorde histórico) e devem somar pelo menos 8 milhões em 2008, de acordo com Paulo Molinari, da Safras&Mercado. Apesar do câmbio. FONTE: Valor Econômico ? SP



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