Às vésperas da retomada das negociações para a reabertura do mercado europeu à carne brasileira, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse ontem, no Senado, que alguns frigoríficos venderam carne de animais não rastreados para a União Européia (UE). A incapacidade do governo brasileiro de garantir a rastreabilidade do gado levou as autoridades européias a suspender as compras de carne do Brasil no último dia 1º.
"Hoje eu tenho certeza disto: eles (frigoríficos) exportaram para a União Européia carne rastreada e não rastreada", disse Stephanes, durante audiência na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária. Ao deixar a reunião, o ministro evitou estender-se no assunto. "Prefiro não ter fogo amigo." Segundo ele, a suspensão das exportações provoca prejuízo diário de R$ 5 milhões ao Brasil.
Para atender às exigências da UE, o sistema de rastreabilidade começou a ser implementado em 2002, quando era ministro da Agricultura o atual presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Marcus Vinícius Pratini de Moraes.
Apesar de Stephanes ter evitado dar mais detalhes, representantes da iniciativa privada avaliaram que o estrago está feito. "O ministro deu um tiro no pé", resumiu uma fonte. Já a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), uma das líderes dos ruralistas no Senado, disse que os certificados de exportação são emitidos pelo ministério: "A declaração é gravíssima".
Durante a audiência, Stephanes também criticou indiretamente seus antecessores, que, segundo ele, não fiscalizaram as empresas certificadoras, responsáveis pela rastreabilidade dos animais. Ele disse que a situação delas era "um escândalo". Segundo o ministro, uma fiscalização recente "eliminou" 20 empresas de uma lista de 71 autorizadas pelo governo. O ministro disse ainda que os frigoríficos precisam assumir um papel de liderança no processo de rastreabilidade.
Hoje, em Bruxelas, o secretário de Defesa Agropecuária, Inácio Kroetz, inicia as negociações para tentar reabrir o mercado da União Européia (UE) à carne brasileira. As vendas estão suspensas porque o Brasil apresentou em janeiro uma lista de 2.681 fazendas aptas a exportar ao bloco, contrariando a orientação dos europeus, de que a relação tivesse apenas 300 propriedades.
Kroetz deverá apresentar uma segunda lista à UE. Segundo Stephanes, serão indicadas 600 propriedades e a idéia é negociar posteriormente a ampliação desse número. Uma fonte do governo disse que poderá haver corte ou adição de fazendas até a hora da reunião com a UE.
Na audiência de ontem, os parlamentares pediram a Stephanes que não enviasse a lista e adotasse uma atitude mais dura. O ministro, porém, disse que é necessário manter as negociações abertas com a UE. "Não temos condições de retirar a lista neste momento." FONTE: Estado de São Paulo ? SP