Luciano Pires
A polêmica em torno do programa brasileiro de rastreabilidade bovina serviu ontem de pano de fundo para um tenso bate-boca entre o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, e o deputado ruralista, Ronaldo Caiado (DEM-GO). Em audiência pública na Câmara dos Deputados, o parlamentar acusou o ministro de ter virado as costas para o pecuarista e de agir passivamente no caso que culminou com a suspensão das vendas de carne nacional à União Européia (UE), em fevereiro. Irritado, Stephanes não só desqualificou, como rebateu em tom áspero todas as críticas.
Um dos autores do requerimento que convocou Stephanes ao Congresso, Caiado aproveitou os holofotes para minar o ministro publicamente. O parlamentar atacou os frigoríficos, as certificadoras e o sistema de monitoramento do gado, conhecido como Sisbov. Entre um comentário e outro, o deputado aproveitou para colocar em xeque a competência de Reinhold Stephanes à frente do ministério.
Stephanes se queixou aos deputados que boa parte dos problemas são fruto de erros do passado. "Muita gente errou. Quase todos os atores erraram", resumiu. Interrogado por quase 20 parlamentares ao longo de três horas de sessão, o ministro informou que concluirá a reformulação do Sisbov em até 60 dias. Disse ainda que é preciso retirar a espada que hoje está sobre a cabeça do governo e do pecuarista.
Irritado com a postura de Caiado, Stephanes partiu para a ofensiva contra o parlamentar goiano. Foi quando começou uma ríspida troca de insultos que durou quase cinco minutos. "Prefiro o senhor como médico a defensor do setor", disparou Stephanes. "Vossa excelência é um pára-quedista", rebateu Caiado. Em vão, alguns parlamentares tentaram acalmar os ânimos. A discussão continuou: "O senhor era um menino quando eu visitava a fazenda dos seus pais", disse o ministro.
Nos corredores do Congresso, o deputado do DEM pediu a renúncia de Stephanes. O ministro, por sua vez, desdenhou o parlamentar e afirmou se tratar de uma "opinião isolada sem sentido". O presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), lamentou o episódio e afirmou que será criada uma comissão especial para, em no máximo 45 dias, apresentar uma proposta legislativa com outras normas para a rastreabilidade animal. FONTE: Correio Braziliense ? DF