27/02/2008
O Banco do Brasil registrou um lucro líquido de R$ 5,058 bilhões em 2007, resultado 16,3% inferior ao de 2006 e abaixo dos apresentados pelos seus dois principais concorrentes privados, o Itaú e o Bradesco, ambos superiores a R$ 8 bilhões. Na semana passada, a Caixa Econômica Federal também divulgou resultado abaixo da média do mercado, despertando dúvidas sobre a capacidade dos bancos públicos sobreviverem em um mercado cada vez mais competitivo.
"Estamos alguns passos atrás do mercado", reconhece o presidente do BB, Antonio Francisco de Lima Neto. "Mas o importante é que, há dois anos, já fizemos esse diagnóstico e adotamos uma agenda para recuperar o mercado perdido - e as ações começam a dar os primeiros resultados", disse, referindo-se a decisões estratégicas como a entrada no crédito imobiliário, financiamento de veículos e o início de parcerias com redes varejistas.
Lima Neto pondera que, do ponto de vista do resultado recorrente, o lucro dos bancos privados não é tão maior que o do BB. Mais importante, afirma, a diferença entre os resultados do BB e dos bancos privados caiu em 2007.
Duas despesas extraordinárias reduziram o lucro do BB em 2007. Uma delas foi um plano que levou à saída antecipada de 7 mil funcionários, com um custo de R$ 604 milhões. Outra foi um acordo com a Cassi, o plano de saúde dos funcionários, com impacto de R$ 325 milhões. Na direção inversa, o BB teve receita extraordinária de R$ 98 milhões da venda de participações na BM&F e Bovespa. Tudo considerado, o lucro recorrente vai para R$ 5,748 bilhões.
"Esse é o melhor indicador para avaliar nosso desempenho, pois é o resultado que vai se repetir nos próximos anos", disse o vice-presidente finanças e mercado de capitais do BB, Aldo Luiz Mendes. Adotando critérios semelhantes, o lucro do Itaú em 2007, de R$ 8,474 bilhões, transforma-se em um resultado recorrente de R$ 7,179 bilhões. O lucro do Bradesco, de R$ 8,010 bilhões, fica reduzido a R$ 7,210 bilhões.
De qualquer forma, o BB está algo como R$ 1,5 bilhão atrás dos principais concorrentes privados, quando a análise é feita com base no resultado recorrente. Lima Neto lembra, porém, que a distância foi bastante reduzida em 2007. O BB, disse, aumentou em 57% o seu resultado recorrente entre 2006 e 2007. No caso do Bradesco, o avanço foi de 13,3%; e, no Itaú, de 15%.
Na avaliação de Lima Neto, essa discrepância de resultados nada tem a ver com o fato de o BB ser um banco público, mas um reflexo da demora em tomar algumas decisões estratégicas e em fazer ajustes necessários para cortar custos.
Por esse motivo, a carteira de crédito do BB é menor do que a dos concorrentes. A fatia mais rentável é o crédito a pessoas físicas, cuja carteira somava R$ 33,3 bilhões em dezembro de 2007 no BB, contra R$ 59,277 bilhões no Bradesco e R$ 54,416 bilhões no Itaú.
O BB diagnosticou em 2005 que estava ficando atrás dos seus principais concorrentes. A conclusão foi de que o banco federal vendia bem produtos financeiros dentro das suas próprias agências, mas faltava uma operação com o chamado segmento de não-clientes, nos quais os bancos privados cresciam mais. A decisão foi de iniciar a operação em financiamento de veículos e fechar parcerias com grandes redes varejistas, além de constituir uma carteira de financiamento imobiliário.
O resultado começa a aparecer, afirma Lima Neto. A carteira de crédito a pessoas físicas cresceu 33,3% em 2007. Foi um desempenho superior ao sistema financeiro como um todo - o crédito livre a pessoas físicas cresceu 30,3% no ano. Mas, a apesar dos esforços, o BB ainda avança na mesma velocidade que o Bradesco (cuja carteira de pessoas físicas cresceu 34,2% no ano) e Itaú (expansão de 34,8%).
Lima Neto diz que os resultados só devem aparecer nos próximos anos. A carteira de financiamento de veículos, por exemplo, ainda soma apenas R$ 2,9 bilhões, enquanto o Itaú tem R$ 29,611 bilhões. Boa parte das operações é feita nas agências, pois o BB ainda não conseguiu montar uma grande operação nas concessionárias. O objetivo é que a carteira de crédito a pessoas físicas tenha em 2012 o mesmo tamanho que as dos bancos privados. A expectativa é que, em 2008, o financiamento de veículos dobre, para R$ 6 bilhões.
Outra frente de ajuste do BB é nos seus custos internos. Nos últimos dois anos, ocorreram pesadas despesas extraordinárias para reduzi-los. Uma delas foi um acordo firmado em 2006 com o fundo de pensão dos funcionários do BB, a Previ, para reduzir compromissos futuros com planos de aposentadoria. Em 2007, houve o plano de afastamento antecipado e o acordo com a Cassi. "Aproveitamos para arrumar a casa e garantir um resultado recorrente mais sólido no futuro", afirma Lima Neto.
Uma vantagem que o BB tinha em relação aos bancos privados eram seus índices de inadimplência relativamente baixos. Em dezembro de 2006, a inadimplência do BB era de 5,44%, ante 6,21% do sistema bancário, pelo critério de provisão requerida. Os demais bancos apertaram os controles de risco e, em dezembro de 2007, tinham uma inadimplência de 5,49%, similar a do BB, de 5,43%.
Lima Neto diz que o fato de o BB ser um banco público não impediu que, diagnosticados os problemas na operação, os rumos fossem corrigidos. "Quando fizemos os cortes de despesas necessários, não houve nenhuma palavra em contrário do acionista controlador", afirmou Lima Neto. "Não existe em hipótese alguma nenhuma orientação para que pratiquemos juros mais baixos."
Ele também não vê o crédito agrícola - que já causou prejuízos pesados no passado - como algo que impeça o BB de lucrar como os grandes privados. Na verdade, diz ele, o crédito agrícola é uma vantagem competitiva, pois permitiria ao BB liderar os mercados nas cidades médias. Mas o fato de o banco ser lucrativo em políticas públicas, diz ele, não elimina o papel do BB como banco público. "O Brasil tem um mercado incompleto na oferta de crédito e de produtos financeiros, sobretudo nas pequenas localidades", afirma. "O BB tem expertise e ganha dinheiro nessas áreas. Já os bancos privados relutam em se aventurar, por exemplo, no crédito agrícola." FONTE: Valor Econômico ? SP