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RIO e BRASÍLIA - Dados preliminares divulgados nesta quarta-feira pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o ritmo de destruição da Amazônia voltou a crescer nos últimos meses de 2007. Entre agosto e dezembro, foram desmatados 3.235 quilômetros quadrados de mata. Segundo o governo, a cifra é quatro vezes superior à do mesmo período de 2004. Não foram fornecidos os dados relativos a 2005 e 2006.
- Nunca antes detectamos uma taxa de desmatamento tão alta nesta época do ano - disse Gilberto Câmara, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que fornece imagens de satélite da área, em entrevista coletiva em Brasília.
Os números, que serão debatidos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quinta-feira, às 9h, em reunião no Palácio do Planalto, representam uma tendência "preocupante" de aumento, segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. De acordo com ela, no encontro, que terá participação de outros ministros, serão discutidas as medidas para fortalecer a fiscalização nos locais considerados mais críticos.
- O governo não quer pagar para ver. Não vamos aguardar a sorte, e sim, trabalhar para fazer frente a esse processo - disse a ministra.
Há poucos meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou a redução do desmatamento em 50% entre julho de 2005 e julho de 2007, resultado atribuído à melhora na fiscalização da posse de terras e no combate a madeireiros clandestinos. Ambientalistas já vinham alertando que o recente aumento no preço de produtos agrícolas levaria a um aumento da devastação, devido à expansão da fronteira agrícola na Amazônia.
Segundo Marina Silva, o governo terá que correr contra o tempo para evitar que o crescimento das derrubadas se confirme no próximo levantamento anual, que será fechado em julho.
- Será um absurdo se retomarmos o padrão anterior de desmatamento - afirmou a ministra, após anunciar os dados do sistema Deter.
A maior parte dos desmatamentos detectados no período se concentrou em três estados: Mato Grosso (53,7% do total desmatado), Pará (17,8%) e Rondônia (16%). Entre as causas para o aumento, Marina citou a seca prolongada e uma possível influência do avanço da produção de soja e da pecuária nas regiões. Ela evitou responsabilizar diretamente as atividades econômicas, mas ao lembrar que a carne e a soja estão com preços internacionais favoráveis, afirmou:
- Não acredito em coincidências.
A ministra disse que será feita uma averiguação detalhada nos locais para um diagnóstico mais preciso:
- Faremos um zoom para verificar.
As derrubadas ocorreram em maior intensidade nos meses de novembro e dezembro. Nesse período, foram desmatados 1.922 quilômetros quadrados de floresta. De acordo com o secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, municípios como São Felix do Xingu e Cumaru do Norte, ambos no Pará, e Comiza, em Mato Grosso, tradicionalmente apresentam altos índices de desmatamento.
Marina enumerou três fatores que devem reforçar a pressão sobre a floresta nos próximos meses: a seca prolongada, o aumento do preço nas commodities e a proximidade das eleições, que aumenta as resistências à fiscalização. A ministra admitiu que o governo pode mudar as políticas atuais de controle e fiscalização, que não foram capazes de evitar a nova alta do desmatamento na região.
- Nós tomamos um conjunto de medidas, mas as medidas não são infalíveis. Às vezes o médico faz o tudo o que pode pelo paciente, mas existem variáveis. Então ele vai mudando, ajustando a medicação. O que estamos fazendo é exatamente isso - disse. FONTE: Globo Online ? RJ